Brincadeira Perigosa. - Sergio Dalla Vecchia




Brincadeira Perigosa.
Sergio Dalla Vecchia


Há algum tempo vendo as imagens pós bombardeio da cidade de Aleppo na Síria,  muito me impressionou a figura de um menino que acabara de ser resgatado dos escombros. Quase fui às lágrimas!

Sua fisionomia era estática, não ouso querer saber que se passava naquela cabecinha com os estrondos das bombas, o prédio desabando, o soterramento e por fim o resgate!

Lembrei-me na hora do meu filho, mas logo aquietei cantarolando algumas músicas que enaltecem a nossa pacifica pátria:

Quem nasceu na minha terra nem sabe o que é guerra!

Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza! 

Mesmo assim, fazendo um esforço, tentei me colocar no lugar daquele menino, que por horas ficou imóvel com entulho lhe pressionando as pernas, os braços, a falta de ar e o pavor do desconhecido!

Será que ele pensou na morte?

Mas crianças morrem?

Não! Crianças não morrem. Elas só terão a insígnia de mortais quando seu cérebro entender o que se passa no mundo real e não no seu mundo encantado, onde a inocência é o programa de governo.

Pediu socorro para a mamãe e para o papai?

Cadê eles?

Mas para que? A brincadeira de se fingir de soterrado estava tão boa!

E de repente surge um bombeiro com uma pá, que com muito cuidado o resgatou. Rapidamente o envolveu nos braços e foi correndo para uma ambulância acomodando-o sentadinho em um banco.

Ele ainda confuso, meio emburrado, passou a mão na testa e pensou:

Por que acabaram com a minha brincadeira de guerra?

E por ironia do destino eu assisti na semana passada a um telejornal que mostrava o resgate de uma menina nessa mesma cidade. Parecia uma cópia do primeiro! Já não fui mais as lágrimas, apenas engoli a seco e respondi à pergunta do menino:


Menino, pode ficar contente, você brincará de guerra por muito tempo!

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