APRENDENDO COM SEU NESTOR - CARLOS CEDANO



APRENDENDO COM SEU NESTOR
CARLOS CEDANO

Não era a primeira vez que seu Nestor e seu neto adolescente visitavam esse museu. As visitas faziam parte de um propósito maior do avô: mostrar para Mauricio a beleza da pintura que seu próprio avô tinha lhe transmitido.

Nesta visita o iniciaria no Impressionismo.

— Pra mim ― comentou ele ― esse movimento teve o mérito de superar a “camisa de força” imposta pela postura rígida e muitas vezes autoritária do formalismo, foi uma espécie big-bang na arte que facilitou o surgimento das numerosas tendências atuais da pintura, foi uma explosão de beleza, de criatividade e estilos!

No momento eles estavam contemplando um belo quadro de Edgar Degas onde jovens dançarinas apareciam num movimento “congelado” pelo pintor. Mauricio perguntou:

        ― Vô, como fez ele para parecer que elas flutuam sem fazer esforço nenhum!

O velho senhor sorriu e disse:

        ― Você observou bem meu filho, é o autor que nos passa essa sensação, veja meu pequeno amigo que a luz, as cores e as pinceladas soltas que utilizou contribuíram pra criar a sensação que você percebeu, enquanto assinalava os detalhes à medida que falava.

Caminharam pelos corredores do museu e logo se depararam com um quadro de Toulouse-Lautrec, No Moulin Rouge: A Dança, onde o pintor retrata uma cena típica dos bailes e personagens de sua época no bairro de Montmartre. Seu Nestor disse:

―Toulousse-Lautrec é considerado um pos-impressionista. Movimento que acentua a explosão de cores herdada do impressionismo, elas são vivas e libres e as imagens fortes retratam temas da vida real. Veja Mauricio que o contorno das imagens é dada pelas cores, completou o avô.

Mauricio não respondeu, o quadro o tinha marcado, estava extasiado com aquela cena retratada pelo autor e da qual parecia escutar a música no meio de um frenesi de risos, gritos e até imaginava a dança dos casais. Por um instante teve a impressão que estava no próprio Moulin Rouge!

Sentaram pra descansar a pedido do avô, e Mauricio aproveitou pra perguntar:

― Vô, como você fez para conhecer tanto sobre os pintores, suas vidas e suas técnicas?

        ― Bom, disse o vovô, tenho muitos anos visitando museus, exposições e leio muito sobre pintura, mas o que tenho a te dizer mesmo é que a contemplação de uma pintura não se limita ao simples olhar fotográfico; as obras dos grandes mestres imprimem em nos emoções, nos comovem e até nos perturbam, captar isso, pra mim é o mais importante!

O menino atendeu o chamado do avô quando lhe propôs continuar a visita e lhe disse:

― Mauricio, estamos agora numa sala onde se encontram cinco quadros de dois grandes pintores: Joan Miró e Salvador Dali e que foram emprestados por um museu espanhol.

Ao entrar a impressão mais forte que atingiu nosso jovem aprendiz foi a sensação de estar num mundo fantástico!  Seu Nestor parou e explicou lhe:

― O que caracteriza a escola surrealista é a ausência de limites, os pintores trabalham suas obras numa “realidade” diferente e com plena liberdade de criação, muitas de suas pinturas, além de repletas de humor, sonhos e utopias são contrarias à lógica!

O avô percebeu que seu neto estava concentrado num dos quadros ― O Enigma de Salvador Dalí ― e com um ligeiro sorriso assomado em seus lábios. De vagar contemplou os outros quadros sempre com a mesma expressão no rosto. Ficaram quase uma hora na sala. Rumo à saída o avô, com curiosidade, lhe perguntou: o que mais te chamou a atenção Mauricio? O menino disse:

― Todo meu avô, todo! Eu tinha muitos sonhos, que até agora não os compreendo, com situações cômicas e com pessoas que faziam coisas que não acontecem na realidade. Mesmo acordado imaginava seres e viagens fantásticos, como nos quadros!

Já quase na saída seu Nestor lembrou-se duma frase que tinha lido em algum livro e cujo nome não recordava, mas que dizia: o subconsciente é o marco do surrealismo! Justo no momento que seu neto lhe perguntava:

― Vô, pode me trazer outra vez para continuar vendo mais impressionistas e seus “herdeiros”? Sobre tudo, outros surrealistas!


― Com certeza! Respondeu o avô mostrando um rosto que irradiava felicidade!

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