AS ABOTOADURAS - Oswaldo Romano


AS ABOTOADURAS
Oswaldo Romano                                                              

        Finalmente, lá na lombada, a boiada aparecia. Vinha levantando poeira, aumentava o trotar. Quem já viu e ouviu, a beleza do espetáculo, não esquece tão fácil. Treme o chão, treme a gente, vibra o som no contato com o berrante.

        Tocada por quatorze muladeiros, vestimenta de couro, argolas, laços trançados e esporas de prata. Montados em arreios badalados eram acompanhados por quatro berrantes. Soprados com carinho, ora atrás ora na frente, mostravam pros bois o caminho, e pra gente, as vistas do estradão e os cimos na solidão.

        Na porteira da fazenda, o barão e capatazes aguardavam o desarreio. Os vaqueiros na chegada, com licença do patrão, tiravam a vestimenta, ficavam de calção. Um calor de estalar, o fazendeiro acompanhou, tirou a jaqueta e sem camisa ficou.

        O capataz mais chegado, considerado fidedigno, que segurava sua roupa, movendo-se levou-as para a mucama. Abnegada, foi de encontro à baronesa,  dobrando o joelho, entregou a encomenda. Chiquinha, cuidadosamente pendurava a camisa, quando observando o punho, sentiu falta da abotoadura.
        — Barão? Ela chamou — Você guardou a abotoadura?

        — Não Chiquinha. Estão na camisa.

        — Estavam... ih ih ih Deus. As duas barão! As duas!

        — Impossível! São as antigas da Cartier, elas têm as correntes de segurança!

        — Então... Soltaram-se barão, criaram pernas, criaram pernas barão.


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