Sonho de Carnaval
José
Vicente J. Camargo
Carnaval
já foi minha festa preferida. O último de que me lembro de ter participado
entusiasticamente, foi aquele em que conheci Verinha comprimida num colante
cravejado de lantejoulas. Me enlaçou com serpentinas e me fisgou definitivamente
com um jato de confetes na boca ao abri-la para perguntar seu nome. Me puxou
para o meio do salão e, cada volta que dávamos, a flechada ia me conquistando
sem resistência. As marchinhas tocadas pela banda estridente se embaralhavam na
minha cabeça misturando as letras de uma com as outras, mas todas louvando aquela
visão a minha frente de colombina com traços de jardineira e odalisca, atiçando
meus desejos por aquelas formas perfeitas cobertas de lantejoulas. Sob o calor sufocante
da arena, atropelado pelos cordões delirantes dos foliões, percebi que ia aos
poucos entrando em delírio:
Allah meu bom Allah
Mas que calor, ô ô ô, ô ô ô
Mande água pra ioiô, mande água pra iaiá...
Se você for sincera, Verinha
Diga logo que me quer, Verinha
Terminamos no meu lindo apartamento
Com ar refrigerado pra curtir o nosso amor...
Abre alas pessoal que eu quero passar
E com Verinha, nem penso em parar
Juntinhos vamos até o sol raiar...
Verinha eu quero, Verinha eu quero te amar
Me dê um beijo, me dê um beijo
Senão eu vou chorar
Não vai dar, não vai dar não?
Então eu bebo até não poder mais
Me dá, me dá oh
Me dá um beijo aí
Se você pensa que meu amor é falso
Ele não é falso não
Ele vem do coração
E o falso, daquele malandrão...
Olha o rebolado da Verinha
Será que ela é, será que ela é
Será que ela é bossa nova
Será que ela é Maomé
Parece que é maravilha
Mas isso, eu tenho que provar...
Oh musa, porque estás tão triste
O que foi que te aconteceu
Foi este cravo que caiu ao solo, deu dois
gemidos e depois cansou
Não fiques triste esta noite é toda tua
Você é muito mais fogosa
Que
este cravo que murchou …
E a noite vai rolar
Desejo ardente eu não quero ver sobrar
Eu passo a mão no sorriso da Verinha
E beijo até me afogar
Deixa a noite rolar...
Acordo suado, agitado e tento me encontrar
na penumbra do quarto.
A ficha cai! Grito:
— Mãe! O carnaval este ano que
dia cai...
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