ENGENHARIA
E O PARAÍSO
Sérgio Dalla Vecchia
Há
mais de vinte anos conheci umas terras lá pelos lados de Avaré SP. Apresentavam
uma topografia suave, que se iniciava às margens da represa de Jurumirim
elevavam-se em rampa discreta, quase uniforme até o ponto mais alto, onde havia
divisa de propriedades.
O
cenário não era dos melhores, sinais de semiabandono eram evidentes. O que mais
chamou atenção foi a quantidades de tocos e raízes remanescentes de uma vasta
plantação de pinheiros.
Entretanto
alcançando uma região mais alta, em meio aos restos de pinheiros, o céu
descortinava uma paisagem esplendorosa, tendo a represa e o horizonte como pano
de fundo. Parecia que ela com seus olhos brilhantes nos dava boas vindas e ao
mesmo tempo clamava por cuidados no seu jardim de entorno.
Foi
nesse instante que meu companheiro de viagem, engenheiro, empresário da
construção e empreendedor por excelência vislumbrou ali o projeto da sua vida e
decidiu adquiri-la. Ele já procurava terras há algum tempo e agora empolgado as
encontrou.
Atitude
de coragem e convicto da sua capacidade empresarial encarou a árdua tarefa de
formar algumas centenas de alqueires a partir do zero.
Passando
férias na fazenda do tio, conviveu com o manejo de gado e agricultura, quando assimilou
as primeiras letras do alfabeto do agronegócio.
O
sonho de Luiz era um dia ter sua própria fazenda. Esse dia chegou!
Almoçamos
lá mesmo, as três horas da tarde o melhor café com leite do mundo, acompanhado
de pão caseiro com manteiga e retornamos à São Paulo.
O
tempo foi passando e aos poucos o entusiasmado Luiz enfrentou o trabalho penoso
do destocamento das áreas. Correção dos minerais do solo e formação de pastos.
O projeto inicial era engorda de bois.
Currais
foram construídos e montou a infraestrutura essencial para o inicio do
agronegócio, incluindo uma modesta sede.
Investiu
em tecnologia moderna para a engorda de bois em escala, instalando vários pivôs
de irrigação de pastos, baseado no sistema francês de Pastoreio Racional
Voisin.
Era gratificante
ver a produção da fazenda escoar em várias carretas repletas de bois prontos
para o abate.
Mais alguns
anos passaram e o mercado induziu Luiz buscar melhores resultados na
agricultura, onde confiante investiu plantando girassol, feijão, milho e soja.
As
colheitas foram prósperas, os negócios bem organizados tinham vida própria e
iam muito bem. Chegou o momento de construir uma sede compatível com a grandeza
da propriedade.
Camila
sua esposa, cobrava há anos a construção da nova sede e o cauteloso Luiz
esperou o tempo oportuno para então poder atendê-la.
O
local escolhido foi próximo as águas, num platô onde do terraço projetado ter-se-ia
uma vista de 180º de toda a represa, complementada de um sol poente centrado no
pitoresco cenário.
Com
projeto feliz de arquiteto famoso, a casa colonial térrea foi muito bem
construída, ampla em todos os cômodos, consumindo com bom gosto proporções da grande
área disponível.
Camila,
com seu perfil simples, porém sofisticado, soube como ninguém atuar na
construção e na decoração do casarão com um mobiliário de estilo e tecidos em
tons pasteis.
A casa
ficou pronta, linda, imponente avistada de longe pelos navegadores da represa, servindo
como ponto de referência da Fazenda Campininha.
Houve
a grande festa de inauguração, a capela e a primeira missa.
Mais
uma etapa de vida concluída por Luiz, agora com a Camila radiante com a tão
almejada sede.
Logo
em seguida mais um projeto, agora sofisticado. Luiz ingressou no time dos
seletos criadores de gado Nelore, onde a engenharia genética é aplicada com excelência.
Participou dos grandes leilões, onde a Fazenda Campininha se consolidou no
mercado com seus belos exemplares.
Nesse
tempo todo e com tantas conquistas, Luiz e Camila construíram a maior delas, o
sólido casamento, onde nasceram os filhos José e Stella, que geraram os netos Tomas,
Camila, Helena e Julia respectivamente, mais ainda os que estarão por vir.
O
casal se consagrou como ótimos anfitriões, recebendo amigos e parentes nos
grandes feriados, sempre com conforto, fartura e as brincadeiras do
bem-humorado Luiz.
Cá
estamos nós aqui em Avaré, eu e minha família nesse primeiro dia de 2019.
Enquanto
o sol ia se pondo, em pé, no meio da varanda eu observava aquele ocaso
deslumbrante, enquanto somava-se a paisagem, familiares e convidados divertindo-se
na piscina com risos de alegria.
Sentia-me
muito bem, havia paz naquele momento. A felicidade pousara naquele local encarnando
nas pessoas, nas plantas, pássaros e na atmosfera.
Com a
câmera do celular registrei um por do sol magnífico, quando o sol, brincado
comigo, escondeu-se atrás das palmas de um coqueiro, deixando à mostra apenas
sua grande aura para canonizar aquele instante.
Nesse
momento de reflexão veio à mente o histórico do empreendimento, onde o devoto
de Nossa Senhora Aparecida, com vontade, perseverança e técnicas de engenharia,
conseguiu a façanha que seu amado agronegócio se fundisse com o Paraíso.
Tal
sucesso, acredito piamente ter sido uma retribuição dos céus por Luiz ter atendido
com brilho, o clamor da represa para que cuidasse bem dos jardins do seu
entorno.
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