De baiana, não!
Ises de Almeida Abrahamsohn
Marialva adora
carnaval. Vai se preparando de um ano a outro. Arranja fantasia, treina a
coreografia como se fosse a coisa mais importante da vida. Desfila em várias
escolas, é passista e faz parceria com o Grilo...
Eu não tenho ciúme,
não. Ela e o Grilo se conhecem desde a infância. Os filhos é que não gostam de
ver a mãe já com 45 anos rebolando pelo asfalto vestida só de biquíni e plumas
coloridas.
Nesse dezembro, Marialva já sabia de cor o samba das escolas preferidas. Na quadra da Portela, mostrava a coreografia perfeita ensaiada com o Grilo.
Era um sábado antes
do Natal quando ela me ligou lá da quadra. A coitadinha chorava, e como chorava.
Mal podia explicar o porquê entre os soluços. Fui correndo pra lá... Sentada a uma mesa era consolada pelo Grilo e
por algumas colegas.
― Môr...
me despacharam.... tô acabada.... soluçava inconsolável minha passista.
Demorou meia hora
para ela contar. No meio tempo, entre choro e acusações expulsou o Grilo da
mesa.
Pois é ... O diretor
de coreografia, sem atinar o dano, tinha transferido Marialva para a ala das
baianas. E ainda teve o desplante de lhe apresentar a substituta. Uma tal de
Taísa, dezoito aninhos, com tudo no lugar e mais um par siliconado de
esbugalhar os olhos. E pior, o Grilo, babando e deslumbrado, foi logo se
achegando na garota para mostrar os passos da coreografia.
O que fazer?
Apenas consolar... O tempo não perdoa mesmo.
Eu gosto mesmo das
celulites da Marialva, contei isso pra ela, e mais, que ela ainda tem um corpão
de fazer inveja.
E sabe o que aconteceu? Não falou comigo por uma
semana por causa da história da celulite!!! E disse que, de baiana, não sai nem
morta.
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