O
ENCONTRO MARCADO
Ledice Pereira
Aquela reunião havia sido
marcada com toda antecedência. A comissão organizadora pensara em tudo: local,
crachás, data propícia, cobrança antecipada.
Agora que a data se
aproximava eu sentia calafrios. Depois de quarenta anos, um reencontro.
A lista de confirmação
estava no site. E o pior, ou melhor, o nome dele estava lá, com número do
telefone fixo e do celular.
Nunca
mais o vi só de pensar que vamos ficar cara a cara fico em pânico meu coração
acelera não posso demonstrar que ele ainda mexe comigo juro que pensei ter
superado isso mas foi só ver o nome dele pra que todo aquele sentimento
amortecido voltasse latente.
O encontro estava marcado
para o próximo fim de semana. Agora eu não tinha mais como recuar nem inventar
uma desculpa. Afinal, o hotel fazenda estava reservado e pago. E não era
barato!
Conforme o roteiro, a
chegada programada para sexta-feira à noite incluía um coquetel de boas vindas
e jantar em volta da piscina.
Que vale que era perto. Se
fosse o caso eu daria meia volta.
No dia, entretanto,
caprichei no visual. Escolhi uma roupa descolada, moderninha, fiz uma maquiagem
discreta e lá fui eu vencer os quase 70 km até São Roque.
O trânsito de sexta-feira,
pra variar, estava intenso. Coloquei uma música da minha playlist do Spotify no
intuito de me acalmar.
Como
será que ele está será que envelheceu muito e se não me reconhecer...
Cheguei um pouco antes das
20:00h. Da entrada, pude ouvir o burburinho que vinha da piscina. Fiz o check-in
rapidinho. O coração pulsava como o de uma adolescente.
Logo, vieram me receber,
colocando-me no peito um crachá e me oferecendo uma taça de prosecco.
Eu procurava algum
conhecido. Não reconhecia ninguém. Estavam todos tão diferentes. Ou gordos, ou
de barbas e bigodes brancos ou carecas.
As mulheres me pareciam mais
familiares. Mas eu olhava sem ver.
De repente, eu o vi. Ele
também me viu. Veio vindo em minha direção sorrindo. Fiquei estática. Não sabia
o que fazer.
Ai
meu Deus me ajude! Não permita que eu desmaie!
Ele se aproximou. O mesmo sorriso!
Os cabelos grisalhos o
deixavam ainda mais charmoso.
─ Nossa! Você está
igualzinha. Eu te reconheceria em qualquer lugar. Não está me reconhecendo?
Eu sentia o rosto queimar.
Devia estar parecendo um pimentão vermelho.
Ouvi minha voz saindo lá de dentro
num sussurro sem graça:
─ Claro que sim. Você também
está ótimo!
Não consegui salvar minha
taça, que escorregou da minha mão, indo se espatifar no chão.
Fui socorrida por alguns que
conheciam nossa história e preferiam assistir de longe àquele reencontro.
Aos poucos, consegui me
refazer e participar do grupo.
O final de semana foi
divertido e teve mil atividades.
Fiquei sabendo que Geraldo
estava divorciado e só.
Eu também havia saído, há
poucos meses, de uma relação conflituosa, jurando que nunca mais me envolveria
com alguém.
Trocamos celulares e prometemos
nos ver.
Acho
que não vou conseguir cumprir meu juramento.
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