Grande Hotel - Guarujá - http://www.novomilenio.inf.br/guaruja/gfoto019b.htm
CARNAVAL.
MÁRIO A. MACHADO PINTO.
Dá para imaginar como paisagem, pintura feita pelo mestre de
todos os mestres, digna de figurar entre os locais paradisíacos deste mundo
afora: areia branca e solta como a inocência das crianças, mar azul para
combinar com o céu aberto, escancarado, abrigando o sol dardejando seu raios
claros beijarem desavergonhadamente as carnes de todos nós, turistas branquelos
provindos de uma cidade cinza no seu todo, habitada por entes que correm atrás
de alguma coisa que não sabem ao certo
qual é e justificam: esta cidade não
pode parar; é crescer e crescer para acomodar gente vinda aos magotes;
não importa donde. Vem, ficam, correm e cansam. Para eles não vale o ditado:
quem corre por gosto não cansa. Cansavam, sim, e cansados iam descansar nas
praias comendo com os olhos as carnes que andavam ao redor, saboreando peixes,
camarões, cervejas que bebiam devagar, golinho após golinho que ninguém é de
ferro (ali não enferrujava). Nos fins-de-semana a ferveção era sentida no ar
acariciando nossos corpos. Não tínhamos muito a fazer.
Durante a semana o ambiente ficava calmo e nós, crianças e
jovens podíamos correr e jogar à vontade na areia branca escaldante.
Nossa casa no Guarujá ficava ao pé da areia cujo jardim e gramado
verde selvagem ultrapassava a cerca de madeira que pretendia limitar nosso
território. Obedecida a limitação, nós a quebrávamos fincando um guarda-sol além
da fronteira. Era tudo muito seguro: acontece que na época nosso vizinho era o governador
do Estado.
Corria o mês de fevereiro, tudo em paz até que começou a chegar
o som das marchinhas do carnaval que se aproximava. Lembro-me da primeira letra e música que
ouvi:
“Alála-ô, ôôôô/ Mas que calor/ ôôôôô/ Viemos do Egito e muitas
vezes nós tivemos que gritar Alá, Alá, mande água pra Yôyô, mande água pra Iaiá, Alá, meu bom Alá”.
Cantávamos em coro no jardim de casa para o menino que trazia as
marmitas com nosso almoço/jantar que para evitar o calor ardente da areia
caminhava entre as rendas de espuma feitas pelo mar irrequieto. Não era por
preguiça não, mas cozinhar, limpar, lavar e passar o que faziam as doze pessoas
na nossa apelidada “Pensão da Da. Estela” e mais, estando grávidas nossa dona e a cozinheira,
eram tarefas demais suficientes. Nada de folga, queriam tudo dentro da maior
ordem juvenil. Cada um que se virasse sem choradeira e sem brigas com dentadas.
Às vezes, agindo como verdadeiro bando de selvagens, a ameaça do chinelo
acalmava tudo rapidinho.
Imbuídos do espirito de verdadeiros súditos do Rei Momo, nós –
os maiores de doze anos – íamos passeando até o Grande Hotel pra espairecer e
ver o pessoal fantasiado dançando, fazendo poses para fotos na entrada do cassino.
Riamos muito, porém na verdade o que sentíamos era inveja por não poder entrar
e gozar das delícias do ambiente.
Nossas primas pulavam de alegria ao ver alguma fantasia que
agradava. Os elogios gritados chegavam a deslumbrante, fantástico, linda,
lindo; o máximo era querer ter igual. Nós, meninos, queríamos era ver as pernas
das moças, coquetes, sabiam disso e as mostravam como se por acaso entre as
franjas das saias de ráfia. Que
gostosura, que delícia, carinhosas serpentes a se enroscar e apertar nossos
corpos. Eta coisa boa!
O Guarujá foi se transformando, deixou de ser bucólico
(imagina); a travessia da balsa passou a verdadeiro suplicio e muita gente foi
se retirando em busca de novas praias, nós, entre todos. Não fomos mais. Somos
sedentários, temos outros amigos chamados TVHD, Celular, email e outras coisas
que não nos divertem. Gostamos de ver como nossos netos vibram com elas. Brinco
com eles dizendo que seus filhos terão orelhas de abano e olhos de peixe.
Hoje, pela TV a cores vemos o Carnaval reduzido a desfiles das
Escolas de Samba, multidões se balançando, suando em bicas, se esfregando e
gritando enquanto comem pipoca com groselha e maçã do amor. As crianças acham
uma chatice fazer castelos na areia, foguear o Vesúvio e ficar coberto até ao
pescoço por areia molhada. Preferem jogar no celular “smart” ou “iphone”. Situação
esquisita a atual: a mocidade diz que o Carnaval é uma droga, e toma dela,
todas.
Situação nada diferente é a das jovens hoje matronas que agora
escondem as pernas com varizes. É difícil conseguir algo que as agrade. Aos
homens jovenzinhos dantanho é mais fácil: bebem e “enchem a cara” e rindo
relembram as boazudas da juventude e não lamentam a barrigona, o nariz inchado,
a careca. Tem consolo fazendo troça de si mesmos lembrando suas “patroas” que
É DOS CARECAS QUE ELAS GOSTAM MAIS.
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