ESTRANHAS
EMOÇÕES
Oswaldo U. Lopes
e Ana Maria Maruggi
À noitinha no restaurante marcado para
jantar com o marido, ela chegou bem antes do horário combinado. Deliciou-se com
o couvert enquanto explorava com o olhar as outras mesas... Foi quando seus
olhos cruzaram com os olhos do jovem moreno da mesa à sua frente. Ele a olhava
insistentemente, parecia que a qualquer momento sairia de lá para sentar com
ela. Temerosa de que ele fizesse isso, mudou de cadeira ficando de costas para
o moreno. Precisava demonstrar que esperava alguém, e que não aprovava tal
atitude.
Mas esperava há mais de uma hora, e
Fábio não chegava. Nem uma mensagem... A bateria do celular ainda resistia, mas
por pouco tempo. Chegou a preocupar-se com o marido, mas logo desconsiderou,
pois era praxe ele não aparecer, ou chegar com horas de atraso preso sempre as
reuniões de emergência no banco. O flerte voltou à memória. Tentou não olhar
para trás, mas estava tão curiosa, queria saber se o rapaz ainda estava lá, se
ele ainda a olhava como antes, se havia mais alguém à mesa com ele. Não devia
estar lá – pensou. Disfarçou. Arriscou uma olhadela de soslaio e lá estavam os
olhos dele fixos nela. Voltou-se rapidamente, para a taça vazia. Nesse mesmo
instante a mão quente a tocou no ombro direito, ela se voltou sorrindo para Fábio,
mas não era ele, ficou assustada, era o rapaz moreno. Ele sorriu com um olhar
quase soberbo, mas elegante e viril, e deixou sobre a mesa um guardanapo
dobrado.
Havia algo escrito no papel que ela
tratou de ler imediatamente, enquanto ele voltava ao seu lugar num extremo ato
de cavalheirismo. As letras eram bem definidas, quase góticas, diziam: “Não precisa olhar para trás se não quiser,
mas esteja certa de que estarei sentado no mesmo lugar esperando seu
telefonema: 9999 2299 – Artur”. Ela amassou discretamente o papel para que ele
visse. Amassou, mas depois reconsiderando certas possibilidades, o dobrou
delicadamente guardando discretamente junto da maquiagem. Teve medo de que
Fábio chegasse naquele momento. Apesar de saber que o marido não viria mais. As
luzes do celular apagaram em definitivo. Pensamentos incendiaram seu corpo, e
de repente analisava possibilidades antes proibidas.
Por fim pediu a conta e saiu discretamente pensando o que
teriam feito, na mesma situação, sua mãe, suas tias ou suas primas.
Sua mãe provavelmente se ofenderia com a abordagem que
classificaria de cínica e vulgar, teria decididamente amassado o bilhete,
jogado acintosamente no chão e ido embora resmungando.
A tia Esmeralda que era avançadinha teria convidado Artur
para jantar com ela. O problema é que de tão avançadinha Esmeralda nem casara.
A tia Judite moderna, mas nem tanto, esperaria Artur ir
embora e mostraria o bilhete ao seu marido como forma de vingança pelo costumeiro
atraso. Não chegaria a ter pensamentos capazes de incendiar seu corpo,
esperaria a saída de Artur apenas para evitar desaforos e brigas entre os
machos.
Enquanto caminhava na noite fria espantou-se com o fato de
que em seus devaneios e pensamentos estar falando do estranho, Artur, com
tamanha intimidade.
Pensou na prima Adélia, bonita, espigada, discreta, mas
resoluta. A prima certamente telefonaria para Artur no dia seguinte, disposta a
ver até onde isso tudo ia dar. Aliás, o Artur esquecera de acrescentar um 9 ao
número que entregara. De novo a intimidade alarmante com o Artur.
Caminhando para o carro, já com a chave na mão Julia se
surpreendeu pensando:
- A Adélia teve uma
excelente ideia, que diabos, em pleno século XXI, o que são possibilidades
proibidas? Elas existem?
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