A PAIXÃO DE VIRGINIA
Carlos Cedano
Gregório
conheceu uma senhora alta, bonita e charmosa, Virginia Moraes, ambos estavam num
congresso de clínica geral, ele como conferencista e ela como membro do estafe que
organizou o evento.
Encontraram-se
algumas vezes durante o evento em situações casuais, se olhavam e sorriam um
para o outro quando se cruzavam. No jantar de encerramento do congresso já pareciam
velhos amigos, falaram de muitas amenidades e até trocaram pequenas confidencias.
Ambos
sentiram que tinham gostado muito um do outro, Virginia fez muitas perguntas
sobre sua vida e suas atividades o que não deixou de surpreender a Gregório. No
final e como não se veriam mais se despediram afetuosamente e quando Gregório
pegou seu carro para ir pra casa percebeu que a rigor sabia muito pouco dela,
sorriu e esqueceu o assunto.
Um
mês após, o médico recebeu uma ligação no seu consultório e escutou a voz de um
cara que, após saber que era ele, disse:
― Isto
é uma advertência! Você não pode andar mexendo com a mulher dos outros, você
aproveitou-se do congresso para cantar à minha! Tome cuidado se insistir sua
vida corre perigo! E desligou.
Gregório
ficou pasmo, que é o que a mulher lhe disse? Fui gentil, nenhuma cantada de
minha parte, então por que isso? Deve ser algum perturbado pensou e tratou de
esquecer o incidente, mas a pulga já estava atrás da orelha!
No
mês seguinte Gregório recebeu outra cinco ligações uma cada vez mais ameaçadora
que a anterior, numa delas o individuo disse ser um violento matador de aluguel!
Os amigos o aconselharam a denunciar o caso à policia. Foi o que o médico fez. O
investigador o escutou atentamente e fez algumas perguntas para esclarecer o
quadro e disse: A primeira medida será localizar a dona Virginia e ter uma
conversa com ela.
Quinze
dias depois o investigador ligou para Gregório para informa-lo dos avanços da
investigação e disse: Localizei o endereço de dona Virginia Moraes na lista
telefónica e fui a seu domicilio onde falei com ela e vi seu marido, um cara a
beira da morte e com noventa e um anos, acho que ele não teria condições de
fazer tantas chamadas de lugares diferentes disse o investigador que já tinha
checado todos os celulares e telefones fixos. Via fax enviou-lhe uma foto de
dona Virginia, você a reconhece? Gregório também pelo telefone confirmou: é
ela, sim!
Doutor
você recebeu mais ligações com ameaças de morte, este caso já está ficando grave!
―falou o policial com preocupação ― também me disse que não teve caso com ela e
nem a viu após o congresso, a pergunta que surge então é: quem pode ser a pessoa
que está fazendo isso? Será que ela tem um amante? Bem, vou continuar
investigando e ligo depois pra você doutor, concluiu seu Mário.
Nos
dias seguintes a situação para Gregório piorou, além das ameaças no seu celular
e no seu consultório houve chamadas pra sua casa que eram imediatamente
desligadas quando alguém respondia. Isso preocupou a esposa que ficava mais
nervosa quando o marido não respondia a suas indagações. Aos poucos a vida do
casal começou a ser afetada! Ela até chegou a perguntar-lhe se não seria sua
amante?
Dona
Virginia pediu para ser recebida pelo investigador para uma conversa particular
no seu escritório, fez uma breve pausa e contou que escrevia um diário sobre
fatos que considerava importantes na sua vida, ele tinha desaparecido mas que
agora, misteriosamente, tinha reaparecido numa pequena estante de sua sala, estava
preocupada com essa situação por que quem o tivesse lido poderia interpretar erroneamente
o que estava escrito. Não sabia explicar quem teria feito isso.
Agora
o interesse do policial se fixou em saber das visitas que receberam em casa nos
últimos messes e também sobre ela ter ou não um amante. Dona Virginia disse que
pelo menos uma vez por semana recebia a visita do vizinho, seu Mauricio, grande
amigo de seu doente marido que às vezes aparecia com seu filho de vinte anos. Em
relação ao amante ela negou tê-lo e o disse com segurança e tranquilidade!
Passada
uma semana o investigador convocou uma reunião com dona Virginia, Gregório e
seu Mauricio. Seu Mário fez uma síntese dos acontecimentos até chegar o momento
em que mostrou uma pasta com copia do diário de dona Virginia, a leitura dele,
disse, tinha deixado o filho de seu Mauricio furioso e ciumento, dona Virginia
era sua obsessão! Sim, sobre tudo pelas páginas onde dona Virginia descrevia a
admiração e afeto que desenvolveu pelo doutor Gregório.
Sim,
meu filho está outra vez internado, ele sofre de uma compulsão obsessiva por
dona Virginia, disse seu Mauricio desculpando-se pelo acontecido. As acusações
foram retiradas e o caso encerrado.
Quando
Gregório acompanhou Virginia até seu carro, a olhou com carinho e lhe disse:
lamento tanto que você tenha chegado tarde à minha vida e ela respondeu com um
sorriso que só uma mulher apaixonada pode mostrar!
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