Dente
por dente...
Mario Tibiriçá
As insuportáveis dores de dente de Geraldo Melo,
vulgo bonitão, meliante conhecido pela polícia,
o levaram ao consultório do dentista
Dr. Claudio.
O bonitão acreditava que uma simples conversa
com o doutor já resolveria seu problema
dentário. Porém, em face do lamentável
estado dos seus dentes, seria
necessário extrair alguns para cuidar dos demais.
O que consentiu rapidamente, pois isso acabaria com as dores.
Diante do espelhinho do
consultório Geraldo Melo ficou enfurecido
ao ver-se sem os dentes. Não imaginou que sua boca ficaria murcha e sem vida. Sem
ouvir como seria a sequência do tratamento, prometeu ao Dr. matá-lo na primeira oportunidade.
Deixou o consultório
enlouquecido de ódio, troteando pelas escadarias. A sede da ira juntou-se à
vontade de tomar um trago. Resolveu
beber. Alcoolizado retornou
ao consultório do dentista já de
arma em punho, precisava resolver isso
- pensava. No entanto, encontrou-o
fechado.
Tremia. Espumava.
Vou
matar esse dentista de merda! -
vociferava consigo mesmo o bandido - Ficarei
tantos dias quantos necessários a sua espera, e vou matá-lo.
Ciente do ódio do bandido, Dr. Claudio resolveu dar-se uma
folga e não foi ao consultório no dia seguinte.
Mas, apavorado, não
parava de pensar na ameaça:
Só
quis ajudar, pô! Decidiu
dar queixa à polícia. Na delegacia lhe prometeram escolta de proteção para alguns
dias.
Já o
bandido, cansado de esperar e tendo dormido à porta do consultório resolveu
procurá-lo no endereço residencial.
Vou mostrar-lhe com quantos balas se faz um dente. E
caminhava trôpego de raiva, com passadas desconexas e pesadas.
Enquanto isso no seu
apartamento Dr. Claudio se preocupava com clientes do dia seguinte, afinal
vivia de seu trabalho e os pacientes
eram o principal ingrediente. Marcara
nove horas com a polícia no consultório,
e isso lhe dava certo conforto, mas não era suficiente.
Morava no segundo
piso e estava lendo alguma revista
quando inopinadamente ouviu tiros e balas cruzaram sua frente. Aterrorizado correu para o terraço. Mas não conseguia ver
de onde vinham os tiros, apenas sentiu o
ardor do impacto do calibre da bala nas costas.
Ái!
Debruçou-se na mureta do terraço e caiu pesadamente em
direção ao térreo.
No dia seguinte o jornal publicava friamente apenas:
“mais u’a morte na cidade.”.
0 bonitão que perambulava ao
léu pelas ruas, imaginava o que comer
sem dentes. Sentia-se nu. Depois de tudo a boca ainda jazia sem dentes para mastigar...
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