A RAZÃO MAIOR - Oswaldo U. Lopes



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A RAZÃO MAIOR
Oswaldo U. Lopes

        Sozinho na praia olhava a destruição da beira mar. Acostumado a viver dele e das coisas que nele viviam, o pescador solitário contemplava os restos de sua casa.

        Mulher e filhos tinham ido embora, viver no sítio do sogro, terra adentro. Ele mesmo ajudara a embalar as poucas coisas que ainda restavam, sentiu um engasgo ao se despedir deles, sobretudo das crianças. Pesaroso, descobriu ali que embora fossem estrelas de sua vida, perdiam para o mar que era a luz, a razão mesma de viver. O oceano era maior que tudo que viera antes e continuaria depois.

        Não quis ir! Era pescador e naquele mistério de céu, areia, sol e mar nascera e ali morreria. Nunca pusera as mãos na enxada, sulcar a terra nem sabia o que era. Plantação do que? Mandioca brava tinha a vontade e folha de bananeira para assar peixe era só esticar a mão que pegava.

        Por que o mar que era tão amigo ficou de repente tão zangado? Dera de rugir e morder levando embora nacos de areia, pedras e casas que encontrasse pela frente.

        Tão gentil antes,  agora rancoroso e violento. O barco, seu companheiro e ganha-pão, não afundara,  ainda flutuava o que permitia suas arremetidas em busca de comida, mas nem um canto seco para acender um fogo conseguia. Já comera peixe cru antes, mas mais por diversão ou quando virava a noite na embarcação, aprendera de ver e ouvir o quão perigoso era ter fogo a bordo. Comer “frutos do mar” crus agora era o de sempre.

        Somando bem eram quatro os que restaram. Pedro, Custódio, Júlio e ele, Bento. Todos, rostos curtidos, sofridos, mas que orgulhosamente se conheciam desde sempre, como pescadores.

        Isso tudo ia acabar, nem falavam para não entristecer mais, mas sabiam que não havia salvação, o mar que lhes dera sempre mais que o necessário, agora queria cobrar a sua parte.

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