O GESTO HUMANO - Oswaldo U. Lopes

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O GESTO HUMANO
Oswaldo U. Lopes

        Há um verso de Camões que sempre me intrigou. Ele esta no CANTO III – EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO:

-“Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito”.

         Como reconhecer pelo gesto, o humano? Não são os humanos os proprietários da comunicação gestual. A verbal, sim, feita através da linguagem falada ou escrita seria uma característica exclusiva do homo sapiens.

        Todos somos capazes de lembrar situações em que nos ocorreu dizer: “só falta falar”, nos referindo a um determinado animal. O papagaio, além de titular de incontáveis (quer pelo número, quer pelo conteúdo) piadas, mereceria um lugar a parte, porque os estudiosos ainda não chegaram a uma conclusão se ele emite sons aleatórios ou os emite de modo sistemático e organizado.

        Cachorros, cavalos, gatos, burros que são animais de convivência mais próxima já foram e serão alvo da observação de que: só falta falar.

        Recentemente, por causa do exame nacional do ENEM a linguagem libras deu o que falar, ou melhor, o que escrever. É bom lembrar que libras não se refere a um signo do Zodíaco, mas a abreviação de: Linguagem Brasileira de Sinais. É curioso que cada cultura acaba criando a sua própria linguagem de sinais e ela se aplica apenas aquele reduto geográfico. Embora seja o português a língua falada no Brasil, nossa linguagem de sinais é diferente da portuguesa o mesmo se dando com outras culturas.

        A comunicação não verbal compreende quatro campos. Dois são simples de entender e de explicar:

Paralinguagem – relacionada às características sonoras. Intensidade, pausas, velocidade, volume são costumeiramente sentidas e compreendidas.

Cinésica - compreende os movimentos executados enquanto se fala, expressões faciais e gestos do corpo, sobretudo das mãos. Aqui de novo aparece o aspecto cultural de uma dada sociedade. A globalização esta dissolvendo um pouco este fator que, no entanto, subsiste. Nos divertimos muito em comparar gestos e expressões que têm diferentes significados para diferentes povos.

        As outras duas se colocam como que no espaço físico da comunicação e são, talvez por isso, mais difíceis de perceber:

Proxêmica – diz respeito ao espaço e ao ambiente utilizado pelo comunicante. Os artistas de teatro aprendem a dominá-la como condição ao sucesso.

Aparência física – e destacada em qualquer manual de: como obter um emprego na primeira entrevista.

        Muito bem,  explicações dadas e feitas, continuamos a procurar o gesto humano. Há uma passagem no Evangelho de Lucas, conhecida como – OS DISCIPULOS DE EMAÚS – que senão nos esclarece nos comove. Ela encontra-se apenas no texto de Lucas e não é referida ou contada por nenhum dos outros três evangelistas. Luc. 24. 13-35

        Reproduzo aqui parte dela que fala do gestual de Jesus:

E aconteceu que, quando estava sentado com eles à mesa tomou o pão e o abençoou e partiu e lhes dava. E se lhes abriram os olhos e o reconheceram, mas ele desapareceu da vista deles... E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como o conheceram ao partir do pão.”

        Ai estamos, prezado leitor, Jesus caminhara com eles apreciável distância, conversara e lhes dera explicações, mas não o reconheceram porque tinham-no visto morto na cruz e enterrado. Foi o gesto de partir o pão que o revelou. Que força que poder tinha o gesto de partir o pão.


        Chegamos mais ou menos de onde partimos. Inês a que estava linda e posta em sossego tenta entender se são humanos os que vão mata-la, Jesus se dá a conhecer pelo gesto de partir o pão. Os gestos do carrasco e do parteiro são reconhecíveis e conhecidos, um traz a morte, o outro a vida. 

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