Vende-se casa. - Fernanda Codorniz



Vende-se casa.
Fernanda Codorniz

Naquela sexta-feira chuvosa, senti minha alma estremecer quando pregos enormes adentraram minha parede. Ao ler aquela curta e impessoal frase: "Vende-se casa.", me apavorei! Uma enorme rachadura tomou conta de mim.

Sempre fui uma casa bem cuidada, era a mais feliz da minha rua. Nasci no bairro da Moóca, próximo a Rua dos Trilhos, rua tranquila e arborizada. Não podia imaginar que um dia isso fosse acontecer comigo. Mas o progresso foi chegando e com ele a fumaça, agitação dos carros e vizinhos nada simpáticos em seus vinte e oito andares.

Perder tudo. Aquela família que acompanhei de geração em geração... Por quê? Pensamentos inundaram meu telhado. Quando eles se foram um enorme vazio se formou, me senti uma casa distante, escura e fechada. Minhas janelas não se  abriam para nada.

Não ouvia mais passos, as músicas vindas da sala de estar e o cheiro do café da manhã. Não sabia se iria ruir diante de tamanha saudade e dor.

Só me vinham lembranças: o dia em que resolveram me pintar de amarelo, para me rejuvenescer, afinal de contas a chuva e sol castigam a gente; o dia em que os vizinhos foram preparar quitutes para quermesse e muitas outras boas lembranças.

O tempo foi passando, passando e, aos poucos, aquela dor se tornou mais amena. Até que um dia percebi que estava melhor ao sentir o sol penetrando em mim, me aquecendo e confortando, trazendo uma sensação de paz e esperança.


Esperança de que em breve terei de novo a sensação de casa cheia, com meus cômodos repletos de histórias e cor.

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