FUGITIVO DAS MALDADES - Oswaldo Romano


FUGITIVO DAS MALDADES
Oswaldo Romano                        
                                      
Ele era um homem estranho. Não gostava de se avizinhar, não conversava, era completamente escuso, e a meu ver, escondia alguma coisa. Dito e feito!

        Silvério chegou à nossa fazenda procurando trabalho. Queria ficar distante da fazenda do Dr. Zé da Toca.

 Como é normal, foi entrevistado.

        — De onde você vem?
        — Venho da fazenda do Dr. Zé da Toca.
        — Onde fica?
        — Fica em Touceira.
        — Qual é seu Nome?
        — Silvério.
        — E Touceira, onde é?
        — A pouca légua da cidade.
        — Que cidade?
        — Santa Maria.
        — O que você fazia lá?
        — Trabaiava.

        — Oh Silvério! Você tem medo de conversar. Pra te dar serviço eu preciso saber mais coisas da sua vida.

        — Carece eu trabaia. Tenho que mandar um dinheiro pra Isaura que tem um filho e disse que é meu. Ordem do Dr. Delegado. Posso ser preso.

        — Espere eu entender. Você está fugindo?

        — Não senhor. Tenho que fugir se não pagar. Mas quero pagar. O sinhô me ajuda. O menino é muito bonito, da risada atoa, mas não é meu, não. O Tião me chama de cornudo. Os outros dão risadas. Tive vontade de dar com o enxadão na cabeça dele. Não valia a pena, resolvi sair. Não sou casado, não. Aquela muié é bonita que dá gosto, mai muito falada. Vive pros cafezais. Até o delegado oiava cheroso pra ela e depois ficava oiando prá mim com cara safada.
        — Silvério, vou dar emprego para você. Depois acertaremos detalhes. Preciso saber mais coisas.

        Estávamos na época de alegria, comemorando a beleza da plantação, que prometia uma grande colheita. O fazendeiro feliz mantem o dia todo aquele sorriso de satisfação, trocado constantemente com os colonos.

        — Eu sou o Francisco, quem  admitiu o Silvério. Parece trabalhador e chegou num bom momento. O começo da colheita.

        Estamos preparando a festa da Aleluia, aquela do Judas. Os colonos vão gostar e vai ser lembrado o falecido filho do Dr. Inácio, o Bruno, estudante em Santa Maria, afilhado do nosso patrão.

        Silvério tendo morado vizinho de Santa Maria  viveu como todos de lá, o drama da  cidade. O incêndio da Boite Kiss.

        Quando viu aqui esse movimento, sentiu que a tristeza não se restringia só lá, não. Estava em toda parte.

        — A manifestação que ocorre no Sábado da Aleluia, é uma vingança Cristã contra Judas Iscariotes, filho de Simão. Foi ele quem delatou Jesus que acabou crucificado. É o traidor da história da humanidade.

         Os unguentos de nardo puro que Maria ungiu os pés de Jesus, hoje vão usar para incendiar o boneco desse traidor.

Doze metros é a medida do chamado pau de sebo. Estava pronto para receber o espantalho Judas.

        Discutiu-se quem o Judas representaria, para não quebrar a tradição. Representar era pintar a cara do boneco com feições do escolhido. Pensou-se no vereador José do PT, tido como o folgado que nada fazia pela cidade. Do delegado, do prefeito, do fiscal. Mas todos sabiam de quem seria.

        A simplicidade do caboclo Silvério, encarregado de montar o boneco contou com ajuda da Arminda, a mulher que consertava roupas.

        Ele sentiu a oportunidade de se vingar das autoridades, porque chegaram até ele os respingos do lamentável incêndio. A cara foi bordada com feições da maior personalidade da nossa republica. O cabelo veio das espigas de milho.

        Depois preencheu a cabeça do boneco, não só com serragem e palha, mas com um enxame de abelhas tirado a noite do canto do beiral da cocheira!
        Quando tudo pronto o Judas foi alçado. O mais entusiasta, ao sinal do meio dia, subiu no pau de sebo, alcançou o boneco, e jogado ao chão um enorme grupo de moleques que o esperava, com paus, na expectativa de encontrar os prêmios e as esperadas balas, iniciaram a pancadaria. Francisco iniciou a queima do fantoche.

        Jamais passou pela cabeça dos manifestantes, que o Judas apanharia, mas iria se vingar. E se vingou. Pleno meio dia, sol forte, sem camisas, as abelhas picavam e rolavam.

        Silvério sentia arrepio na pele quando falavam do acontecido na Boite Kiss, lá em  Santa Maria. A tragédia foi tão grave que colocou o Brasil indignado. Há dias junto com outros da colônia, participou de uma reza em memória dos mortos, entre os quais pelo estudante  Bruno, afilhado do Dr. Maurício, filho do fazendeiro Tércio, muito seu amigo.

        Silvério na reza só sabia a Ave Maria. Ao mencionarem Santa Maria, se transportou para o reduto que deixou com tristeza.

        Sua conclusão é que o responsável da tragédia está em Brasília, onde começa a corrupção e se espalha lançando chispas por todo país. É o PT administrando, dando exemplos, espalhando seus homens atrás de dinheiro fácil, alcançando todos os rincões.

        Não foi um acidente climático mandado do céu, ou promovido por um louco atirador. Os bandidos são outros. Crias do maior partido do brasil. Petistas compareceram no velório. Viram os 242 mortos e choraram em cima dos cadáveres como se não tivessem culpa.

         Promoção politica é uma praga que dá até em velório das suas próprias vítimas. A autoridade máxima, chorar em cima do leite que derramou, causa indignação, revolta. Deviam ter vergonha!

        O Judas ser malhado deixou muitos com a sensação de batendo, aliviar a revolta. Muitas abelhas continuarão por ai, picando e procurando novos caminhos, não sei até quando.

        Os presentes na malhação comentavam seu desenrolar entre muitas criticas. O Dr. Mauricio, lembrando o jovem e as tristezas sofridas pelos pais, seus amigos, emocionado e revoltado, não conteve as lágrimas. O boneco apanhou muito. Mas continua viva a praga regada pela bolsa família.


        Finalmente queimado sobrou um fumego que levantava velados rolos de fumaça que os transportavam para a cena triste da incendiada Kiss.

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