O LIVRO NEGRO DE JOHN E A ESTRADA SURDA. - M.luiza de C.Malina



O LIVRO NEGRO DE JOHN E A ESTRADA SURDA.     
M.luiza de C.Malina

John vivia numa capelinha fora do povoado. Caminhava com um livro negro, a passos largos. Um livro negro. A única bagagem.

Era visto pelos habitantes como um eremita. Forte e saudável, de pouca fala. Porém, a acentuação do sotaque estrangeiro  logo o denunciaria.
John era um espião procurado pela máfia.

As grossas páginas de seu livro continham apenas um conto. Um conto muito diferente. Um acróstico, as primeiras letras das palavras formavam o nome, o local, data do encontro que lhe fora incumbido. No entanto, ele deveria aguardar o dia certo na ermida para passagem de um transeunte com uma vasta bagagem, que também não o conhecia.

Senhoras dirigiam-se a capelinha. Ele as ouvia e as persignava, com a intenção de se retirarem rapidamente. Nas semanas seguintes, ao final da tarde fazia-se fila. Tinha o dom de cura com o silêncio. A notícia correu a outras vilas. Curiosos e mais curiosos lá chegavam.

O compromisso se aproximava entre as vozes entremeadas de soluços e pedidos. Escapar. Ele é quem precisava de ajuda. Olhava a tudo isto incrédulo. Avista uma pessoa com uma grande bagagem. Persigna-o. Era o último da fila.
John pensa sozinho: “ninguém sabe que o caminho a percorrer é severo e sem ajuda em uma estrada surda”.


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