Imagem Pareidológica - Oswaldo Romano


IMAGEM PAREIDOLÓGICA 
 Oswaldo Romano

 Estava muito concentrado no escritório. Bato palmas para o dia em que encontrei a solução de dividir a preocupante responsabilidade comercial, dos momentos que escrevendo destruo horas embebidas em metamorfoses.

Precisava encontrar a palavra certa que desse sentido a uma frase. Vejam quanta preocupação! Era o conto da promotora do EscreViver. Estava estático. 

Permanecia muito atento, concentrado. Tinha acabado de jantar. Com tamanho cuidado, controlava o sono. Aquele devia ser um momento da sesta, uma vez que não o fiz no almoço. Mas controlava o sono. O sono que sentados nos dobram para trás, ou para a frente. Nesse momento minha mulher, que assistia a TV em sala distante, num ímpeto arrebatado, gritava, me chamava:

 — Wá, Wá, Wá. Venha depressa! 

 Claro que dei um pulo, assustei. Sai tropeçando, pé contra pés de cadeiras, cambaleando. Encontrei-a puxando a cortina. Pedia silêncio, apontando para fora. Quieto, quieto - dizia. Cautelosamente me aproximei.

 — Veja, veja... 
 — Ver o que Cí? 
 — Olhe em cima da churrasqueira. 
 — Sim, estou olhando. 
 — Você não vê? 
 — Vejo sim, a chaminé.
 — Não!! Um gavião!!! Não vê ? 
 Respirei fundo e não a desmentindo falei: 
 — A noite seria o corujão. Levado pela sua firmeza eu até fiquei na dúvida. 
 — Gavião sim! - retrucou. E os canários, estão guardados? 
 — Calma, os canários são guardados no seu espaço. 
 — Olhe, como é bicudo... Bem, sai dali, fui ver de outro ângulo. 
 Que gavião, que coruja, que nada. Era uma folha. Sim, uma folha seca. 
 — Ah, ah, Cí! Pare com essa coisa. Veja daqui. É uma folha. Caiu da palmeira. — Tem razão, já parei. Parei não, como você diz: Pareidolia, né?


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