O nó do prazer
Suzana
da Cunha Lima
Seu
detetive desvenda o mistério da mulher estrangulada no quarto do hotel
O
casal chegou ao hotel de madrugada. Bem vestidos, pareciam cansados, chegaram
de táxi, com apenas bagagem de mão pois disseram que só iam passar aquela
noite. Dia seguinte iam retornar para B.Horizonte. Devido à curta duração, a
recepcionista nem fez ficha de admissão. De manhã, como o casal não atendia ao
telefone, um funcionário foi ao quarto, no terceiro pavimento, tocar a
campainha e encontrou a senhora morta, estrangulada. O detetive Ramires foi
acionado.
Antes
mesmo de chegar ao Hotel, o detetive Ramires pediu que isolassem a área, para
evitar contaminação e perda de evidências, e dispersão de pistas ou indícios.
Assim
mesmo havia grupos de curiosos na entrada, embora contidos pelos isoladores de
área e uma patrulha policial.
Ramires
subiu ao quarto, pelas escadas, sempre farejando pistas e observando
atentamente por onde passava. Logo percebeu que o homem devia ter descido as
escadas e não usado o elevador. Por quê?
Chamaria menos atenção, claro, e entraria no hall de entrada do hotel pela
lateral, meio escondida atrás das pilastras e balcões. Observou alguns riscos provavelmente feitos
pelo fecho de maleta nas paredes por onde as escadas se situavam, sugerindo
alguém com muita pressa, sem preocupação com a integridade das paredes.
Bom, -
pensou. – O homem desceu correndo, queria era sumir daqui o mais rápido
possível, sem chamar atenção.
O
espetáculo não era bonito. A mulher jazia no chão, à primeira vista parecia que
fora estrangulada. Ramires notou então uma corda no chão. Fora enforcada ou
estrangulada com as mãos de alguém? A senhora em questão era corpulenta e alta
e a descrição do marido, feita pelo recepcionista, era de um senhor magro,
parecendo bem mais velho que ela. Seria
preciso muita força para imobilizar a mulher e apertar-lhe o pescoço ao mesmo
tempo. O legista começou a trabalhar no corpo e Ramires aproveitou para dar uma
olhada no que havia no quarto. No
banheiro ainda estavam as escovas de dentes, pasta, sabonete e shampoo com
condicionador. Escova de cabelos, pente, um gel e nada mais.
Na
falta da ficha de admissão, Ramires enviou uma foto que tirou ali mesmo, meio
macabra, da morta e enviou tudo isso pela Internet e para o departamento
técnico da polícia, com os dados do único documento encontrado na bagagem de
mão da senhora.
Enquanto
esperava os resultados, vasculhou a maleta da mulher que continha apenas uma
muda de roupa, artigos de higiene e maquiagem, um par de sapatos altos que lhe
chamou a atenção, como totalmente inadequado aos pés de uma senhora de idade,
além de um belo vestido de seda. Notou
jogados na poltrona, uma lingerie insinuante, preta e alguns artigos próprios
de sexo erótico.
O
casal teria se hospedado naquela única noite para promover uma farra a dois?
Aos
poucos os informes foram chegando. A
policia de BH informou que se tratava de um casal que morava há muitos anos em
Belo Horizonte. Nada constava em ficha
policial. Ele empresário de certo sucesso, ela dona de casa. Sem filhos. Tinham
um bom padrão de vida. Gostavam de viagens curtas, sempre no eixo B.Horizonte,
Rio e São Paulo.
O
legista confirmou que ela não tinha sido estrangulada. Fora pendurada pelo pescoço, simulando
estrangulamento, certamente para estimular ao máximo os centros de prazer. O
que era muito estranho é que este procedimento era mais usual entre homens, não
com mulheres. Ou foram informados
erroneamente desta atividade, ou não souberam sustar o estrangulamento a tempo.
Já havia casos em que isso havia acontecido, mas sempre com homens, devido
mesmo à sua conformação biológica.
Aquele
cadáver era mesmo de mulher?
O
legista, que até então só havia se preocupado com a garganta, cabeça e olhos do
cadáver, voltou seus olhos para a genitália e constatou que era de mulher, mas
somente no IML poderia dar isso como certeza, devido a tantas cirurgias de
mudanças de sexo ocorridas naqueles tempos.
No
final das contas, era um casal que desejava incrementar sua vida sexual e
ouvindo falar deste procedimento de semi estrangulamento, não se ateve para o
perigo e riscos que estavam correndo, pelo desconhecimento total do processo e
da inadequação dele tratando-se de
mulher.
Com
certeza o marido ficou tão envergonhado e assustado com o ocorrido que resolveu
fugir, e pensar melhor o que faria depois.
Ramires
não fez muita força para encontrá-lo.
Ele já havia sido punido pela sua imprudência e o fato de ter que viver
sua vida escondido e sempre apavorado, era castigo suficiente.
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