O MENINO QUE QUERIA MORAR
NA LUA
Sérgio
Dalla Vecchia
O
menino era diferenciado das outras crianças. Sensível, calado e extremamente
musical.
Tinha
o dom das rimas e da escrita. Bastava olhar para uma cena, dela sugar versos e
logo transformava-os em poesia. Pensava mais um instante, dedilhava alguns
acordes no violão e surgia uma linda melodia.
O
universo era o manancial das inspirações.
Do
seu quarto, em noites de Lua cheia, ele sentado no batente da janela,
boquiaberto, contemplava a beleza do iluminado Satélite.
Nessas
ocasiões a noite inspirada pela Lua, deixava-se seduzir pela clareza do dia e
juntos mantinham o ocaso com seu lusco fusco pela madrugada adentro.
Via
nitidamente São Jorge, lança em punho, montado no cavalo branco e vibrava de
emoção com a inspiração da cena.
Numa
dessas contemplações, encantou-se tanto que rogou a São Jorge para vir buscá-lo
e levar para na Lua morar.
Rezou
com muita fé e quando abriu os olhos, espantado, deparou-se à sua frente, com o
próprio São Jorge que lhe disse:
—
Venha menino, monta na garupa e vamos embora para a Lua, onde terá as mais
belas inspirações para seus poemas.
Assim
partiram. O menino abraçado a cintura de São Jorge, olhava deslumbrado a trás
enquanto sentia a umidade das nuvens no rosto, o céu era o cenário e a Terra
ficava cada vez mais distante!
Enfim
pousaram em uma pequena cratera na crosta lunar.
Ainda
deslumbrado olhava ao redor e pulava sem parar de alegria.
Por
fim acalmou-se e perguntou à São Jorge:
—
Onde é minha casa, quero ir para a cama, estou cansado e quero dormir?
—
Sinto informar-lhe, mas aqui não temos casas e muito menos camas. Veja a seu
redor, só existem pedras e pedregulhos. Não existem plantas e nem animais. Não
há vida por aqui!
—
Mas como pode ser isso. Lá da Terra tudo parece tão lindo e maravilhoso?
—
Pois é, querido menino, às vezes o que vemos com o coração pode não ser o que
imaginamos com a mente!
—
Calma, explico-lhe melhor! A Lua nada mais é do que um satélite da Terra,
rochoso, empoeirado e repleto de crateras, apenas isso. Essa é a parte real
dela. -Continuou São Jorge.
—
Agora, a parte imaginária é você quem a cria. Com amor, com bons olhos e com a
ajuda do esplendor do Universo!
—
Olhe para a Terra daqui, como a imagina?
—
Azul e deslumbrante! - Respondeu Poetinha.
—
Ela lhe traz inspiração?
—
Sim, muita!
—
Então escreva alguns versos.
Terra
Foi
daí que fugi,
Terra
querida
Pois
daí esqueci.
Dos
verdes mares,
Da
beleza dos rios,
De
gente aos milhares!
Do
céu ponteado,
De
estrelas a brilhar,
E
para ele admirar!
De
pronto voltarei,
Para
na Terra ficar,
Lindos
temas versarei
para
te homenagear!
Assim
que o menino terminou de declamar os versos, São Jorge sensibilizado, entendeu
que ele estava arrependido e logo lhe disse:
—
Vamos, monta na garupa e voltaremos já para a Terra. Lá é o seu lugar.
Assim
o menino voltou e deu valor a sua querida Terra.
Feliz,
mas nunca deixou de imaginar-se em Marte, Vênus, Plutão e tantos outros astros
do infinito Universo.
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