ENSAIOS LITERÁRIOS
Ledice Pereira
O menino descalço, monta na velha bicicleta e
sai pedalando sem rumo.
Sem freio, pega logo uma velocidade
incontrolável, atravessando a rua.
Não fosse o tênis colorido do atleta a
chamar a atenção.
Pensou rápido, meteu a mão na buzina, enquanto
apertava o freio, que falhou.
Aquela árvore foi providencial.
O rapaz, num movimento lento, tirou
a mão dos olhos, admitindo que teve medo de morrer.
O menino, cabisbaixo, pega o que sobrou da
bicicleta, faz meia volta e pega o caminho de casa.
Na mansão, a única distração da mulher são
as cartas do baralho.
Ao longe, o barulho do mar acalenta os
sonhos e a esperança de que chegue alguém para lhe fazer companhia.
De sua cadeira ela vê a nuvem carregada,
indicando chuva.
O apito do trem a tira de suas
conjecturas. Talvez, nele esteja o homem que ela tanto espera. .
Ajeita o turbante, liga o ventilador para
reduzir o calor e fica a esperar.
Adormece.
O sol alto a acorda. Triste
constatação. Continua sozinha.
O automóvel cruza a rodovia pegando
a estrada secundária para o destino visto apenas por foto.
A viagem parece tranquila.
Uma motocicleta se aproxima perigosamente.
Mal dá para o motorista avistar a arma apontada.
O tiro passa de raspão.
Consegue fugir. A lua ilumina o caminho até
a casinha.
Com dificuldade retira a corrente da catraca, adentrando ao
jardim.
As folhas espalhadas pelo chão servem para cobrir o
veículo, escondido no meio da floresta.
O olhar demonstra medo. A boca está
seca. A chuva despenca.
Nada a fazer senão esperar o amanhã.
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