O CASAMENTO REAL - Sérgio Dalla Vecchia




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O CASAMENTO REAL
Sérgio Dalla Vecchia



A coroação de Stella estava próxima. Seria a rainha mais jovem que aquele reino já teve. Tudo estava preparado para que fosse um evento inesquecível.

A felicidade e a euforia dominavam os súditos. Mas, para ela a coisa não era bem assim.

O príncipe escolhido para seu marido não era nem de longe o que ela sonhava.

Sua mente virgem ansiava por um jovem e valente, por quem seus olhos brilhariam e o coração transbordaria.

Imaginava ela com seu bem-amado cavalgando livremente pelos campos, uma parada, um beijo, carinhos e uma vida amorosa pela frente. Acordava transpirando emoção pelas noites quentes pensando no grande amor.

Governariam felizes um reino próspero e de harmonia.

Mas, não!

O rei Pai, ofereceu sua mão à um rei mais velho que ficara viúvo há pouco tempo. Por interesses políticos se uniriam em força e territórios para combater um outro reino vizinho, maior e almejado há tempo por ambos.

Poderia ser como o reinado de Isabel de Castela com Fernando de Aragão. 

Formaram um único reino vencedor de grandes batalhas, expulsando os mouros e implantando as cruzadas. O grande reino perdurou por anos sob o comando do jovem casal.

Mas isso jamais ocorreria com Stella e seu príncipe. Havia uma grande diferença. Fernando e Isabel eram jovens e se amavam. Sentimento incompatível com a atual escolha real.

Por fim o destino casou-os com todas as pompas da realeza durante os três dias de festas.

Entretanto a felicidade e alegria da união em nada ajudou na fria noite de núpcias. Uma cama, um ato, prazer de um e desilusão de outro.

Mesmo assim num leito majestoso de poder, carente de amor, o casal gerou dois filhos.

Rainha Stela sábia, não vendo outra alternativa de vida, resignada pelas imposições políticas do seu sangue real, doou-se ao governo com nobreza, criou dois filhos e viveu muitos anos num reino próspero e harmonioso, graças a sua entrega pessoal.

O amor aos pobres e combate às injustiças foram o bálsamo que a mantiveram viva. Suas ações foram eficazes e reconhecidas pelos súditos que a adoravam. 

Conseguiu baixar os impostos aliviando a vida dos comerciantes e com isso foi querida por todas as classes. A estabilidade econômica manteve-se e todas trabalhavam felizes.

A dedicada rainha de sorriso doce, começou a sentir o efeito emocional depressivo, mesmo lutando com todas as forças reais no duro combate. Seu escudo alegre, começou a ser corroído pela tristeza interna da desilusão amorosa por anos a fio.

Quando Stella faleceu houve uma comoção em todo reino. Inconformados, todos queriam se despedir do corpo da carismática rainha, exposto na Capela do Castelo. Foram sete dias de luto e muita tristeza.

O luto acabou, o governo retomou a administração e logo o rei já articula o casamento do primogênito com uma conveniente princesa de outro reino cobiçado além mar.

Assim a ampulheta do tempo virou por diversas vezes e o ciclo dos casamentos pensados continuou fazendo negócios por muito tempo, renegando o amor a um segundo plano.

Como previu um astrólogo do rei quando consultado sobre a felicidade do casamento:

Por hora ainda se ajeitam, mas daqui há muitas gerações, não haverá lugar para o amor, apenas os negócios dominarão e o casamento não mais existirá.




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