Grande Sertão - José Vicente J. Camargo


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Grande Sertão
José Vicente J. Camargo


Tô na fila do busão, nesta manhã fria chuvosa
Tão comum na Pauliceia
Sem tempo pra pensar, se amanhã melhor será
Se nem hoje, sem diesel, com greve sem vergonha
Sei lá que horas chego, no emprego da grana
Com patrão pega no pé, é ruim passar da hora

Nervosismo já era, com este cheiro que vem
Da barraca ao lado
É queijo de coalho na manteiga garrafa
Enroladinho na goma, melhor coisa não há
Pro preparo do biju
Não dá outra, sou humano

Me lambendo tudinho, saboreio saudades
Que deixei lá no sertão
Com mãezinha aflita, rezando orações
Pro seu filho querido, não cair nas tentações
Da cidade desvairada sem moral nem salvação
Cheia de vícios, pecados e solidões

Eu matei as saudades, mas depois outra chegou
A do burrico Tião que carrega sem grito
Tudo o que quero levar, seja lá pra onde vou
Combustível é capim, nem carece ser dos bons
Se água fresca tem, agradece com relincho
Se barrenta for, baixa olho segue rumo

Nesse trem diesel não entra
Não polui as veredas, com seus verdes bacuris
Nem cristalinos rios, de cardumes lambaris
Tão bem romanceado no livrão Grande Sertão
Do imortal mineirão, João Guimarães Rosa
Não dá greve vergonha, só glórias pro Brasil..


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