VIAGEM INESQUECÍVEL
Ledice Pereira
Setembro de
1978. Era outono lá. As folhas amareladas, que caiam das árvores, formavam um
tapete nas praças e jardins.
Eu estava lá.
Do outro lado do mundo. Beliscava-me, às vezes, para me certificar daquela
realidade.
Cheguei a Londres
às 15h do dia 21 de setembro. Meu marido me esperava no aeroporto.
Ele havia ido
semanas antes para fazer um curso, a mando da agência de propaganda onde
trabalhava. A viagem dele já estava programada há muito tempo, mas a minha
havia sido resolvida pouco antes dele viajar, portanto, eu ainda me encontrava
sob impacto. Mal podia acreditar que estivesse ali.
Nos dias que
se seguiram, enquanto ele frequentava o curso,
eu rodava pelas ruas de Londres, cada vez mais maravilhada com tudo que via.
Lembro-me de ter ficado alguns minutos de boca aberta, olhando para o Big Ben e
as casas do Parlamento, tão diferentes, em arquitetura e cor, daquilo que eu
estava acostumada a ver aqui.
Em pouco tempo
eu já estava familiarizada com ruas, lojas, ônibus, metrô, enfim. Parecia ter
sempre vivido ali.
De Londres,
seguimos para Viena onde respiramos todo aquele ar musical que ali transpira.
Visitamos os Bosques de Viena, o Castelo de Schöbrun, onde viveu Elizabeth
Sissi, a Imperatriz, cujos filmes, e m minha adolescência, me fizeram rir e
chorar.
Tínhamos a
impressão de que, a qualquer momento, veríamos Mozart, Beethoven, ou que
dançaríamos uma valsa sob a regência de Strauss.
Às vezes, julgava-me
personagem dos romances de Simmel, andando por aqueles subterrâneos enormes,
com medo de que o tempo voltasse e alguma explosão pudesse ocorrer.
A Holanda,
esbanjando verde, pareceu-me um presépio. Visitamos cada cidadezinha,
ciceroneados por um amigo holandês. Vimos Rotterdam, a Haya de Ruy Barbosa e
até uma cidade miniatura, Madurodam. Ganhamos do dono do hotel Aalborg onde nos
hospedamos, um queijo gouda, que levamos conosco para Paris.
Ah, Paris!
Encantadora Paris. Iluminada Paris. A Paris dos artistas, da Place du Tertre. A
Paris da Perspectiva.
Ah, O Louvre,
com seus jardins tão cuidados.
Ficamos
sentados em uma mureta olhando para a Place de La Concorde, à espera que as
luzes se acendessem. Entendemos porque Paris era chamada cidade-luz e vimos à
meia noite as luzes se apagarem.
Deixamos Paris
com grande tristeza, mas gostamos de chegar a Roma que nos pareceu familiar.
Não sei se pelos filmes, ou pela bagunça do trânsito, tão semelhante à nossa.
Nós que vínhamos de Londres, Viena e Amsterdam custamos a atravessar a rua.
Tivemos que usar de nossa imaginação e habilidade paulistas para conseguirmos.
Entretanto,
comemos maravilhosamente! Visitamos as ruínas, as igrejas e até os mercados de
onde trouxemos especialidades da cozinha italiana. Estivemos em Nápoles e não
conseguimos nos esquecer da cor da gruta azul para onde fomos de barco e de mini ônibus, que ziguezagueou pela costa
amalfitana.
Em Roma, não
vimos o Papa.
Após passarmos
o domingo inteiro no Vaticano aguardando a fumaça branca que anunciaria a
escolha do novo papa, fomos embora frustrados, pois ele foi escolhido na
segunda feira, quando já tínhamos partido para Barcelona.
Barcelona
revelou-se encantadora e o povo simpaticíssimo. Ficamos hospedados no bairro
gótico e visitamos grande parte da cidade e passamos um dia na praia de Costa
Brava. Achamos que poderíamos até morar ali, tão à vontade nos sentimos.
Mas, bateu uma
saudade tão forte de nossos filhos que assim que terminaram os trabalhos do meu
marido em Barcelona viemos embora, desistindo da passagem já comprada para
Lisboa.
Quando
chegamos, pensando que as crianças também estariam morrendo de saudades, eles,
que haviam ficado com as duas avós, apenas perguntaram:
- O que é que
vocês trouxeram pra gente?
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