QUE MAL HÁ NISSO?
Ledice
Pereira
Quando Rita se casou tinha apenas vinte e dois anos.
Filha mais nova de um
casal de meia idade, era muito vigiada
pelos cinco irmãos.
E quando Jofre, doze anos mais velho, se apaixonou por ela
houve certa pressão para que o casamento saísse logo.
Ela achou que seria a forma de se livrar do controle dos
pais e dos irmãos e aceitou a proposta de casamento, sem pensar muito nas
consequências.
Rita era cheia de vida, gostava de se pintar, de se
produzir, de sair, de dançar enquanto Jofre era um homem pacato. Gostava de
natureza, de pescar, de plantar. Era um bom jardineiro e tinha trabalho todos
os dias. Mas não contassem com ele no fim de semana. Esse era dedicado à
pescaria com três amigos.
E os fins de semana de Rita, naqueles dez anos, se resumiram
a ficar sozinha, visitar os pais, os irmãos, e se sentir muito triste.
Até que um dia Marta, uma amiga de infância, a convidou para
ir a um baile na cidade vizinha, que ficava a uns quarenta quilômetros de Serra
Grande. Iriam com uns amigos.
A princípio, Rita disse que não podia ir porque o marido não
gostaria.
Marta, entretanto, sabendo o quanto ela gostava de dançar, convenceu-a:
— Ah Rita, ele nunca te acompanha, você é muito jovem pra
ficar trancada em casa. Além disso, o que tem demais dançar um pouquinho?
Dançar não tira pedaço.
E lá foi ela. A vontade era tanta que venceu o medo que
sentia de ser descoberta.
O baile começava às dezoito horas e terminava à meia-noite.
O marido só voltaria mesmo no domingo à noite.
Rita, a princípio tímida, não resistiu ao ritmo e às
melodias que tanto ouvia no rádio. Caiu no samba.
Bonita e graciosa não ficou nem uma música parada. Os
rapazes e senhores faziam fila para tirá-la.
À meia noite em ponto
a banda parou.
Quando foram pegar o carro para voltar encontraram dois
pneus furados. Àquela hora não havia borracheiro na cidade. A solução era
pernoitarem por ali e no dia seguinte procurar um borracheiro.
Rita ficou apavorada. Mas o que havia de fazer?
Conseguiram dois quartos numa pousada e lá ficaram.
Rita mal conseguiu dormir.
No dia seguinte, pneu consertado, pegaram a estrada para Serra Grande.
Ao chegar, com o vestido amassado e toda despenteada, deu
com a porta de casa aberta e um carro de Polícia no local.
Jofre tinha resolvido fazer uma surpresa para ela voltando
no próprio sábado.
Ficara desesperado ao descobrir que ela não estava ali.
Procurou na casa do sogro e dos cunhados. Falou com os vizinhos e ninguém sabia
do paradeiro de Rita.
Chamou a Polícia.
Ficou tão feliz quando a viu chegar, que nem ficou bravo por
ela ter ido dançar.
Reconheceu que não estava mesmo sendo um bom companheiro para
sua jovem e encantadora esposa.
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