OS CONTOS DO VIGÁRIO- Oswaldo U. Lopes


OS CONTOS DO VIGÁRIO
Oswaldo U. Lopes

        Padre Inácio não era jovem, nem era velho, padre de meia idade fica esquisito, mas era o que ele era. Secular estava submetido ao Bispo e dele não se queixava até porque o próprio o chamava com frequência e com ele trocava ideias e, pasmem, ouvia o vigário , às vezes calado.

        Tempos modernos, franciscanos, ora pois, embora jesuíta o novo papa fazia toda diferença. Dom Hermínio estava preocupado com a paróquia de São Joaquim. De nome pacato, pai de Maria, a paróquia de pacata não tinha nada. Com a valorização imobiliária, infraestrutura de boa qualidade o lugar atraíra as construtoras que compravam terrenos aos magotes, derrubavam as casas e construíam  condomínios de altas torres e é claro gente jovem as pampas.

        O resultado era uma mistura de prédios, casas antigas que haviam micado, pequeno comércio e o aparecimento de supermercados que nunca sequer haviam sido pensados pelos antigos moradores.

Padre Inácio tomava conta da paróquia de São Miguel, certamente o oposto dessa. Zona estritamente residencial, sem possibilidade de verticalização , os habitantes na maioria gente de meia idade que tinha filhos ou no ensino médio ou no fundamental II. Ele gostava do seu povo, trabalhavam com afinco, crianças bem vestidas e frequentando bons colégios. O comparecimento à missa e outras atividades religiosas era apreciável e ele conseguia ate realizar quermesses de sucesso. E tinha um detalhe, ele era assíduo frequentador da casa de seus paroquianos, fazia questão de entrar e muitas vezes sentava-se à mesa e jantava com eles.

O curioso é que não falava muito de religião, nem pregava (Deus me livre!) nessas ocasiões, deixava a conversa seguir seu rumo natural e até parecia mais um membro da família do que um vigário.

Agora em São Joaquim tudo era diferente, o que mais rolava eram automóveis guiados por mães apressadas levando crianças de um lado para o outro. Não parecia haver possibilidade de entrar e quem diria jantar, tomar café de pé na cozinha já seria um sucesso. O que fazer?

Padre Inácio havia reparado que os edifícios tinham áreas comuns bem estruturadas. Onde a criançada se juntava para brincar.

Em tempos bicudos de segurança, fez a coisa nos trinques, vestido de terno e colarinho clerical apresentava-se ao síndico e pedia autorização para entrar no prédio. Feito isto frequentava não as casas, ou melhor, os apartamentos, mas as áreas de recreação. Graças às novelas de época ou de tema religioso, havia espaço na cabeça das crianças para ouvir histórias bem contadas. E esse era um dom do Padre Inácio, ele era um contador de histórias nato!

O curioso é que começaram a aparecer adultos nas rodas do padre. Gente que estava passando, gente que ouviu os filhos falarem e assim de prédio em prédio as histórias do padre e sobre o padre foram se espalhando e rapidamente ganharam o apelido de:

OS NOVOS CONTOS DO VIGÁRIO


E o povo das casinhas encurraladas e micadas? Padre Inácio tinha tempo para eles também. Jantava com eles e rezava com eles na busca de dias mais solidários e afetuosos, pedindo que a misericórdia de Francisco ajudasse aquelas famílias que também eram, mais do que todos talvez, Povo de Deus.

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