DUAS AMIGAS
Carlos Cedano
Raissa e Marlene são amigas
desde o ensino fundamental, no ensino médio já eram tidas como personalidades
fortes e de aguda inteligência, os colegas admiravam o espirito de participação
delas em inúmeras atividades esportivas e sociais da escola. Na festa de
formatura, ambas lindas, chegaram com seus respectivos pares que eram gêmeos
idênticos. Na festa contagiaram todos com sua alegria!
A conclusão do ensino médio
foi o inicio de uma serie de eventos que poria a prova essa bela amizade: escolhas
da faculdade, a preparação para os vestibulares e, finalmente, souberam que a
separação prevista aconteceria, já que ambas tinham sido aprovadas no
vestibular. Raissa iria pra Brasília estudar Direito, e Marlene ao Rio onde faria
psicologia.
Começou pra elas uma rica e
emocionante fase: matricula na faculdade, procurar moradia, organizar a
mudança, aparelhar o apartamento, estabelecer com as colegas de “república” as
respectivas logísticas e esquemas de convivência e, principalmente conhecer
novos amigos e etecetera, etecetera!
Depois houve necessidade de
decidir sobre a mobília do quarto: cama, escrivaninha, cadeira entre outras
coisas. Ah! Comprar computador novo e outras parafernálias eletrônicas entre as
quais os aplicativos que os colegas de faculdade aconselharam.
No começo as comunicações das
amigas eram pelo celular e até três vezes num mesmo dia falando por longos
períodos. Mas, pouco a pouco, foram diminuindo. Depois foi por whatsapp ou correio eletrônico com
frases curtas e até lacônicas e poucas respostas, sobretudo por parte da
Marlene. Esse período durou mais de um
ano até que Raissa tomou uma decisão.
Num belo dia Marlene chegou
a casa e ficou surpresa com a carta enviada por Raissa, pegou-a e foi até seu
quarto onde com forte emoção rasgou o envelope e leu:
Com ternura olho para tua foto cada dia,
Sim! Sinto saudades de teu sorriso e alegria.
Como faço minha amiga se na minha fantasia,
Teu rosto se embaça um pouquinho a cada dia?
Raissa
Marlene sentiu o golpe! Chorou
muito, além de triste, sentia-se culpada por não ter atentado para o enorme sofrimento
que causou à sua amiga. Que fazer pra desculpar minha omissão? Essa noite
dormiu no meio a sobressaltos e sonhando com o rosto triste dessa amiga querida.
Levantou cedo e, ainda
escuro sem lua e sem estrelas, sentou-se frente a sua mesa de trabalho e com
fortes traços, foi escrevendo pra Raissa. Deixou sair sentimentos que brotavam
do mais profundo de seu coração. Terminada a carta a primeira coisa que fez no dia foi
envia-la pra Raissa:
Sabe minha meiga criatura
que só você poderá
Conhecer todos os segredos
de minha alma?
E que procuro o brilho de seus
olhos para iluminar
A senda que leve meu
coração a encontrar a calma?
Não peço perdão a quem com seu
doce cantar
Avivou o fogo de meu amor
que para sempre viverá!
MARLENE
Rapidamente Raissa
respondeu com outro poema que dizia:
Não há nada a ser perdoado nem
a lamentar,
Caíram os muros e os
espíritos, agora livres,
Voam à procura de destinos mais
nobres
De fato, nada há a perdoar
e nada a lamentar.
RAISSA
Até o fim de seus estudos
universitários as duas amigas continuaram com esse intercambio epistolar que se
transformou num “nicho” de comunicação de seus sentimentos mais íntimos. Quando
voltaram pra São Paulo se casaram com seus respectivos pares, que não eram
gêmeos idênticos, na mesma igreja, no mesmo dia e na mesma hora!
Passo ocasionalmente por
essa metrópole e soube que as famílias cresceram, não perguntei o número de
filhos e sim sobre como estão, todos os amigos em comum me confirmaram a enorme
felicidade em ambos os lares.
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