“NUM TÔ INTENDENDO”
Ledice
Pereira
Ao
chegar em casa, à noite, depois de um dia exaustivo de trabalho, Marli
costumava tomar um banho, jantar e sentar-se à frente da televisão.
Ali,
ficava horas. Via TV, cochilava, falava ao telefone, consultava o celular checando
e-mails ou mensagens.
Algumas
vezes, ali mesmo, lia algum livro. Aquele sofá era seu lugar predileto.
Naquela
noite, estava tão cansada que não conseguiu prestar atenção em nada.
Adormeceu.
Sonhou
que andava por ruas estreitas e tortuosas, cercadas por muralhas de pedra.
Parecia perdida naquele lugar desconhecido e tentava perguntar àquelas pessoas
com vestimentas antigas, que lugar era aquele.
Ninguém
lhe dava atenção. As pessoas pareciam não enxergá-la.
E,
por mais que andasse, ela não chegava à lugar nenhum. Parecia caminhar em
círculos.
O
único senhor que parou para ouvi-la parecia-lhe familiar. Falou-lhe numa língua
estranha que ela não conseguia entender. Reconheceu naquela figura o professor
de Física, matéria que ela detestava na escola e que havia lhe reprovado.
Ele
sorria maldosamente e continuava falando aquele dialeto incompreensível.
Acordou
sacudida pelo marido preocupado com sua agitação e dificuldade com que falava
com voz enrolada:
— Professor,
me ajude, por favor. Onde estou? Que
lugar é esse?
— Num tô intendendo patavina do que o senhor
está falando.
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