Um amor de condutora
Vera Lambiasi
Alexandre, pobre gajo português, professor na escola de condução
de Portimão, teria, naquela tarde, uma guria como aluna.
Preparou a carocha, e partiu em busca de senhorita Rosa, em
sua casa.
Mas aquilo não era uma moradia, parecia mais um palácio! - Exclamava Alexandre, com seus botões.
Desceu, tocou a sineta, e o que viu o deixou embasbacado. E
não é que a moça era linda mesmo?
Pelo panorama, já adivinhou, que iria ser difícil se
concentrar nas razias.
Cumprimentou-a com respeito, indicou o banco do condutor, e
sentou-se ao lado.
Rosa pôs-se a matraquear, contou que morava em Londres, era
cantora, e estava a passar férias com os pais em Portugal. Agosto era, por
norma, um mês meio morto, de modo que, nesta época, se divertia imenso com a
família por essas bandas.
Alexandre encantava-se com a guria muito gira, que desviava
de camiões de uma forma muito soft.
Rosa dominava a direção, só precisava mesmo era tirar a
carta de condução.
Arrasou no punta-tacão ladeira acima, fez curvas como uma
iniciada no automobilismo, e nem se incomodava com o cheiro a fumo de escape.
O conta-quilómetros ainda nem marcava a metade da aula,
quando fizeram uma paragem para o café.
Por hoje é tudo! - Disse Alexandre à Rosa, que não entendia
a manobra do instrutor.
Ele pagou-lhe um pastel de Santa Clara, declamou Fernando
Pessoa, para além disso entregá-la em sua mansão.
Dia seguinte, lá estavam os dois para a aula. Alexandre
pegou uma Lotus emprestada, vestiu-se em seu melhor traje desportivo,
perfumou-se, e seguiram para o autódromo, distante bem uns 15 quilômetros.
No banco traseiro, uma cesta de picnic, ora pois.
O que aconteceu naquela pista foi pura magia, professor e
aluna alternando-se na condução. Dali, para abraços e beijos, no relvado
adjacente.
Fizeram a descontraída refeição no tempo regulamentar das
classes, e retornaram à cidade.
Rosa passou no exame, com louvor.
Tinha seu documento, e era chegado setembro, tempo de
partir.
Alexandre, de coração destroçado, implorou sua permanência.
Não havia futuro para os dois, e ela se foi.
Anos mais tarde, em uma corrida em Silverstone, onde o
famoso piloto Alexandre Monteiro sagrou-se campeão, Rosa apresentou-se cantando
o hino de Portugal.
Nunca mais se descolaram.
—
Viste, Rosa? Dá-se um jeito!
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