O RETRATO - M.Luiza de C.Malina




O RETRATO                                                                                                           
M.Luiza de C.Malina

Diana, a deusa da caça, na sua invulgar seminudez, ornamenta a sala de estar. 

O retrato do tataravô, rodeado de dezenas de cabeças de cervos e galhadas, exibem as caçadas nas montanhas fumegantes, onde um caçador se depara com a presença do outro em que quase se disparam os tiros cara a cara.

 Como um rei, ostenta no olhar um silêncio hipnótico a observar as gerações que surgem em meio às neblinas, testemunhando a ausência masculina, com instinto de posse.
A viúva acolhe em seus braços a recém-nascida neta, cujo pai esquiva-se nos morros em eterna fuga. A resposta sempre é a mesma entre os conflitos das perguntas “seu pai morreu numa caçada”. Anos à frente mais uma menina e assim se sucede até a quinta geração onde a figura já gasta do tataravô presencia a geração de mulheres de onde viria mais uma mulher.


Esta sucessão, sem explicação, intriga os pensamentos do mouro, no dia em que pede a mão de Anarosa.  Impossível, ele é apenas uma aparência presa, num tempo empoeirado a perseguir as mulheres. Quem teria gerado estes rostos tão parecidos? Pronto a descobrir o mistério, o mouro tropeça e rola escada abaixo aquietando o espírito das montanhas fumantes.

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