MARY LEE
M.
Luiza de C. Malina
“1940.
O casarão já demonstrava sinais de que deveríamos abandoná-lo. Algo de incomum
se percebia ao subir a escada. Era um roçar de algo no braço, semelhante a
teias de aranha.”
Assim
Mary Lee descreve os dias que antecederam a guerra. A família estabelecera-se
no porão devido aos constantes bombardeios e repentinas entradas de policiais girando
os bastões nas mãos à procura (...) de que mesmo? Já não me recordo.
O
porão era protegido por um baú de fundo falso. Estávamos na parte superior da
casa, ouvimos o som da sirene para o toque de recolher. Neste caso usávamos o
outro lado do porão com uma entrada oficial, que poderia ser revistado a
qualquer momento. Batidas aceleradas à porta suspenderam nossa respiração.
Ao
abrir a porta percebemos que não eram os policiais do cotidiano e sim os
“aliados”. Olhavam-nos cuidadosamente. Com idioma incompreensível apontaram
para minha irmã descer ao porão. Ela era a mais velha, linda com longas tranças
loiras. Ficamos em silêncio ouvindo o silêncio que vinha do porão. O tempo
passara a ser uma eternidade.
O
soldado retorna com algo enrolado nas mãos. Estávamos petrificados. Passado um
tempo, Mary Lee sobe os degraus da escada, lentamente, com o gorro do exército
cobrindo a cabeça. O soldado havia lhe raspado os cabelos.
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