POBRE ESCRITOR APAIXONADO
Oswaldo
Romano
Quando a Siderúrgica Monte Belo teve que
enxugar a folha dos seus funcionários, eu estava entre os 500 demitidos.
Nosso chefe se recusava a declarar o
motivo, mas Dra. Dina, advogada de prestígio a serviço da companhia sinalizava
para seus causídicos o motivo do corte. Consequência de uma medida política da Presidência que os Senadores acataram prontamente.
Sentimos uma traição, recordando de
quando votamos na última eleição.
Desempregado, fui gastando as poucas
economias, quase nada sobrando dos ganhos dos meus cinco anos de trabalho.
Completo 28 anos no dia 26 de julho,
ainda solteiro. Estou cansado de procurar emprego. Mandei dezenas de currículos
com fortes argumentos. Nada.
Redigindo estes currículos percebi que
escrevia razoavelmente bem, embora com estranha emoção. Poderia escrever,
ficaria autônomo! Isso mesmo! Vou escrever um romance, por a venda, fazer minha
independência!
Criando meus personagens:
Tinha um casal fazendeiro, ele Sebastião
Prado casado com Mariquinha Ferraz. Dono de uma razoável herança ganhou também uma
pequena fazenda. Com seu trabalho e capacidade de empreendedor, fez uma fortuna.
Transformou a cultura de frutas,
adquiriu vizinhanças, modernizou-se. Comprou máquinas transformou numa grande e invejável fazenda de
café. Tinha perto de 100 mil pés, em plena produção.
Pais de filha única, Carlota, agora com seus
vinte anos, uma flor. Recebeu educação para no momento oportuno assumir o
patrimônio do pai. Já é uma mulher
formada e que ganha um trato a altura do seu modo especial de vida.
Foi nesse ponto que dei vazão aos meus
sentimentos por ela. Os escondia há muito tempo. Aguardo que um dia me procure.
Sinto que vai me procurar, mesmo que seja simplesmente para saber meu nome. Coisa
que nunca perguntou.
Ela não é só rica. Tem beleza interna,
externa é a principal flor naquele imenso jardim.
Tão linda e doce, sorri facilmente,
inebria quem a vê. Nessa hora não me contenho, meu ciúmes é doentio, minha
emoção chora.
Tenho ficado cada vez mais pobre. Mas
nunca me senti tão rico, tão realizado, quase completo. Embora eu chore vendo-a
se distanciar, o amor que tenho por ela me fortalece, me enche de energia.
Vou esperar. Enquanto isso levanto as
mãos para o céu e imploro:
— Oh Pigmalião,
ensina-me ganhar a confiança de Afrodite. Preciso da sua ajuda.
(História:
Pigmalião, escultor, poeta Romano, se apaixonou pela própria estatua que
esculpira. A deusa Afrodite, atendendo seu angustiante pedido, a transformou em
carne e osso com quem Pigmaleão se casou)
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