Mary Star - Vera Lambiasi


Mary Star
Vera Lambiasi

Cantora de boate do baixo meretrício.

Alta, morena, olhos castanhos anoitecidos.

Voz afinada, coxas grossas.

Já fez trabalho de prostituta numa casa de tolerância, e hoje o dia lhe sorri, não mais amargando noites enfadonhas.

Orgulhosa do dom de sua voz, é por vezes solitária, não querendo muito dividir seu luxuoso apartamento de oitavo andar. Trabalhadora meticulosa, tem seu repertório estudado diariamente. Sua casa sempre limpa e arrumada, guarda as partituras em estantes numeradas.

Mary tem um gato de olhos tristes, chamado Paixão, sempre enrolado em seus tapetes, escondendo-se das raras visitas.

Certa noite, um amigo, o mais frequente,  se debruçou na janela, com seu copo de whisky, a espera de Mary, que tomava uma ducha.

Paixão o observou com cuidado, esperto como sua dona. Esquivando-se do olhar do intruso, fez-se sonolento, e o viu derrubar o gelo pela vidraça.

O que Mary já desconfiava, foi confirmado por Paixão : o homem não era de confiança.

Na chegada de Mary à sala, pede mais gelo da cozinha, dizendo que o seu já acabara.

A anfitriã solícita dirigiu-se à geladeira, com naturalidade.

A explosão ao abri-la, jogou Mary ao chão, ferindo-a gravemente. Mas a força de seu corpo protegeu-a da morte. O homem limpou o recinto, e levou a amiga ao hospital.

A perícia concluiu que o refrigerador estava com defeito. E o amigo prontificou-se a dar um fim ao eletrodoméstico.

Paixão, que tudo assistiu, não descuidava de sua amada. Não deixaria mais entrar aquele homem, de feições brutais. Nas visitas sequenciais gania alto para que Mary percebesse o perigo. E isso foi acontecendo. Sua dona questionava cada vez mais o acidente no último mês.

Lembrou-se do segredo, que guardava do amigo, de seu tempo de garota de programa.

Carlos havia roubado uma boa grana do sogro. Desculpava-se dizendo que este lhe devia um dote, e apenas pegou o que tinha direito. Mary muitas vezes o encorajou a devolvê-lo, mas acabou desistindo, convencendo-se de que era um problema do casal.

Agora, com a morte da esposa, Carlos viu-se coagido a devolver tudo. E ainda foi responsabilizado pelo incêndio no apartamento onde viviam.

Assustada, começou a ligar os fatos.

Carlos havia lhe pedido dinheiro emprestado. Houve um acidente similar.

E Paixão que não parava de rosnar, quando o via. Seu gato a alertava, e ela não dera importância.

Resolveu trocar as fechaduras. Avisar aos porteiros que não deixassem Carlos subir.

E pedir um tempo, insinuando interesse por outro homem.

A cólera tomou conta de Carlos, de amigo prestativo passou a se mostrar um sujeito da pior espécie.

Acusou-a de ladra vagabunda quando estava bêbado, caído diante da plateia do Nightclube. Aquilo foi a comprovação que Mary necessitava, o nojento tentou assassiná-la.

Nesta noite, os capangas do sogro de Carlos, que já o observavam, levaram o corpo embriagado.

Dia seguinte, corria a notícia do falecimento do importante empresário Carlos Pereira, por overdose, encontrado sem vida, num matagal.

Mary seguiu sua vida regrada de musicista, prestando, desde então, mais atenção ao felino.                                     

      

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