SIMPLESMENTE
NICA
M. Luiza de C.Malina
Nica era assim. Um tipo de
mulher que quase, já não se encontra. Nada de extremos em seus altos e baixos .
Era uma morena clara,
alta, alegremente falante em seus 27 anos. Apesar de se enquadrar na escala
social como pobre, a casa em que vivia no bairro da Lapa, embora muito simples,
se misturava às belas mansões que aos poucos davam lugar a luxuosos edifícios. Clientela que
lhe rendia um dinheiro extra aos sábados, como manicure particular.
Durante a semana era datilógrafa
em uma empresa multinacional. Atenta e extremamente observadora, aperfeiçoava
seu próprio comportamento imitando as atitudes de suas colegas e até mesmo as boas maneiras de suas clientes.
Obcecada por uma educação esmerada,
repassava aos cinco filhos seu aprendizado. Era uma escadinha sem fim. O
primeiro filho havia nascido aos 14 anos. Não terminara os estudos.
Em seus devaneios, sonhava
em ser artista de rádio, de preferência da Rádio Nacional. O som entusiasta de
um “Bom Dia Querida Ouvinte”, chegava-lhe aos ouvidos aproximando-a do
radialista, tornando-o íntimo em seus fantasiosos pensamentos.
Ah! Aquele belo cantor
estará na rádio amanhã.
E no dia seguinte lá
estava ela, excitada, frente a
frente de seus ídolos. Demonstrava tanto entusiasmo e alegria, que foi convidada
a participar do programa ao vivo. Orgulhosamente aceita, identificando-se. Sua
voz clara numa manhã chuvosa, nos microfones da Radio Nacional, ecoava pelo
Brasil afora.
Apesar do simples nome de
NICA, pois poucas pessoas assim se chamavam, os telefones da rádio começaram a
se congestionar, patrocinadores queriam sua voz para as propagandas. Novelistas
a requisitavam para participar das gravações.
NICA. NICA. NICA. Era só o
que se ouvia.
Não precisou passar pelo
teste do sofá. A novidade também chegara
aos ouvidos familiares.
Nica vence. Rasgou seu
passado para romper neste novo presente.
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