Visita inesquecível - Ledice Pereira

 





Visita inesquecível

Ledice Pereira

 

Quando meus pais diziam que iríamos à casa de tio Leôncio, eu e meus irmãos queríamos sumir do mapa.

Era uma verdadeira tortura!

Os meninos escondiam-se nos lugares mais improváveis, dentro do guarda-roupa, na lavanderia, até no galinheiro.

Ali, entretanto, as galinhas se encarregavam de dedurá-los.

As meninas choravam, implorando para mamãe deixá-las com Vitória, nossa governanta.

Mamãe dizia “não” uma vez só. Não adiantava insistir.

Eu, no auge dos meus quinze anos sentia-me na obrigação de ajudar mamãe a convencer os pequenos a não desobedecerem, pois eu sabia que sobrariam palmadas para todos, inclusive para mim, quando intercedia por eles.

O problema é que a casa de tio Leôncio era escura, triste, quase mal-assombrada. Enquanto os adultos conversavam, nós não tínhamos o que fazer.

E tinha um pote de vidro enorme, onde eles guardavam montes de bombons e não os davam pra ninguém.

Os pequenos olhavam praquele pote e os olhinhos até brilhavam, mas tia Quitéria, com seu olhar vesgo ficava de tocaia pra ver quem iria ter coragem de tentar abrir o pote que dizia estar fechado a sete chaves.

Naquele dia, porém, os tios foram mostrar, para nossos pais, o novo chevrolet que compraram e nos deixaram a sós naquele mausoléu. Fui convencida a abrir o tal pote e pegar um bombom pra cada um.

Quando eu ia pegar o meu, os adultos voltaram e eu fui pega com a boca na botija.

A bronca, e depois, em casa, as palmadas sobraram para mim.

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