Um
Fato Inesquecível
Yara
Mourão
Dizem
que cada dia deve trazer algo novo para todo mundo; mas não é bem assim.
Passa-se
um bom tempo ansiando por uma novidade e quando a gente até já desistiu, eis
que um dia nasce diferente. Aí tudo muda. Muda o olhar, o sentimento, e uma
história nasce para sempre dentro do coração.
Foi
assim que no final dos anos 90, pouco antes do século XXI chegar, eu intuí que
aqueles momentos que eu vivia seriam guardados com muito carinho.
Eu
havia me divorciado há pouco e as mágoas ainda eram muito palpáveis. Estavam à
flor da pele me sufocavam e cegavam. Nada parecia se encaixar mais na minha
vida.
O
trabalho com jovens me salvava porque a energia que o pessoal na casa dos 30
anos tem, é um motor poderoso.
Lidando
com os pós-graduandos eu me realizava e até imaginava que a vida podia ser uma
aventura gratificante.
Na
época conheci pessoas incríveis. Mas quem mais me marcou foi um rapaz alegre,
meio feioso mas muito charmoso, culto e interessante.
Os
eventos universitários eram comuns e eu fui me entrosando aos poucos,
timidamente, mas com muita vontade de estar entre aquele pessoal.
Só
que aquele pessoal tinha 30 anos. Eu já beirava os 50...
Foi
incontrolável. Surgiu à minha revelia, uma atração contida por aquele rapaz
feioso. Recíproca atração.
Embora
fosse algo muito marcante tinha todo o potencial de uma bomba relógio.
Forças
internas e externas conspiraram para dar um cheque -mate no nascente “affair.”
Mas,
ficaram sequelas. Ficou também um poema que eu fiz para ele, mas que nunca tive
coragem de entregar, e que até hoje guardo com bastante carinho:
Me encantam os teus olhos;
Não são tanto os olhos
É mais o olhar,
Que promete o céu sob seu manto
E ainda, o canto da cotovia
Que embalou os sonhos dos amantes de Verona
Quando já raiava o dia.
Me encanta o que dizes
E o que não dizes
Num silêncio revelador;
Que não sabias, mas te exibe
Fascinado, reticente, sedutor.
Me encantam tuas pernas
Que são fortes como troncos.
Mas que se insinuam displicentes, adolescentes,
Em teus trajes de menino sonhador.
Me encanta,
Esse não querer querendo
Esse partir iminente que sempre deixas no ar.
É como se de repente
Não fosse conveniente
A gente se enamorar.
E o meu encantamento
Se desfaz por um momento
Erodido de ilusão!
Mas, para não deixar de lado
O dom supremo de sonhar,
Eu te imagino voltando,
Imagino a gente se amando,
E recomeço a me encantar...
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