O ASSASSINO - Antonia Marchesin Gonçalves




O ASSASSINO
Antonia Marchesin Gonçalves


                Nos seus oitenta  anos Hug era morador da pequena cidade de Hoher Daslstein na Áustria, linda como um conto de fadas, ficava ao pé da montanha com casas e igrejas medievais, um lago imenso com transparência  azul turquesa, cercada por uma vegetação preservada, formava um belo quadro. 

Nem sempre morou ali, nasceu sim, mas quando adolescente achou a cidade pequena e foi tentar a vida em cidades grandes, sonhava em se tornar um homem rico. Percebeu com o tempo o quanto era difícil a vida fora de seu país, já quase homem, estourou a segunda guerra mundial e precisou voltar para servir o exército, lutou junto com os alemães, passou fome, viu muitos amigos morrerem, e após o termino da guerra, tentou trabalhar em um pouco de tudo.

                Muitas vezes roubava comida, tamanha fome. Chegou a matar, mas esse episódio era seu segredo, evitava comentar. A verdadeira história, segundo seu próprio relato: estava ele vagando pelas ruas destruídas,  quando esfomeado, passou a vasculhar latas de lixo, ao mesmo tempo outro andarilho disputou com ele a mesma lata, se atracaram. Porém, como ele era mais forte acabou empurrando o indivíduo que bateu a cabeça na quina da calçada,  vindo a morrer. Ao vê-lo morto esperou que a polícia o encontrasse e confessou o acidente, foi considerado crime de sem intenção de matar, cumpriu pena com trabalhos comunitários.

                Voltando à sua cidade natal, percebeu o quanto era linda e tornou-se pescador. Conseguiu comprar a uma casinha, casar e ter filhos. Com a idade resolveu transformar sua barqueta em transportadora de turistas pelo lago, pois os tempos eram outros e havia um grande fluxo deles na cidade, até noivos e padrinhos levava para os vilarejos vizinhos.

                Hug sente-se agradecido e tem orgulho do seu novo ganha pão.
               

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