DRIBLANDO A MORTE - Maria Luiza Malina

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DRIBLANDO A MORTE
Maria Luiza Malina

Ema a mais antiga e bem quista funcionária da Confeitaria Família, era conhecida pelos frequentadores pela seriedade e alegria ao contar histórias sobre a origem dos pães, incluindo a preferência dos famosos que por lá passavam. Sua falta era sentida em dias de folga. Folga! Que nada, adorava trabalhar.
Era manca. Fora atropelada por um bonde. Isso não era nada para ela. Habituada na lida os anos não passavam, era ela quem passava pulando sobre os anos. Pois é! De tanto pula, pula um dia a invejosa da dona morte a visitou. Percebendo o que estava por acontecer, se postou de costas para a mal desejada visita e barganhou com os céus:
— Por favor, não me deixe morrer antes de passar todas estas roupas! – falava olhando para o cesto de vime que cuspia as roupas limpas e amassadas – Eu juro amanhã começo a passar tudo, então, esta bruxa pode passar por aqui me levar. Eu não posso passar vergonha na frente de toda essa gente que  conheço, e ainda vão ficar me olhando no caixão – ela deu uma espiadinha de lado e viu que a fantasmagórica estava enfraquecida até que, sumiu. A barganha fora aceita.
Mas, que nada. Quem disse que Ema olhou para o cesto. Ela pulou o amanhã indo direto para o depois de amanhã deixando o depois cuidar do caso que, acabou ficando em maus lençóis. Na verdade ela foi ao encontro de um médico oriental que descobria doenças terminais apenas pela aparência das unhas.
Foi, e soube: Um mês!
— O que faço doutor, onde posso me esconder desta invejosa.
— Simples, não usaremos medicamentos e nem exames agressivos. Não quero que você vá a nenhum hospital, lá elas farejam e transformam as pessoas em carniça.
— Meu Deus!
— Sim pode pedir ao seu deus, seja qual ele for, para que você se livre dela. É pior do que carrapato. Isso é bom sinal carrapato você não tem – confirmou rapidamente com uma lupa atrás da sua orelha.
— Bom e o que fazemos?
— Tratamento fitoterápico?
— Fito o quê? Eu nunca fiquei doente, a não ser... Atropelada mas isto foi outra coisa.
— Há! Então a senhora já é uma cliente da dona inveja. Ela é assim, quando vê alguém alegre já puxa o tapete.  Plantas minha senhora, vamos usar muitas plantas. Ela não gosta de plantas.
A partir daí Ema mudou de vez. Mudou de emprego, mudou de casa, deixou o cesto de vime cheio das roupas para passar e passou a vida a limpo. Foi morar na casa do médico oriental. Na falta de plantas para espantar a morte tinha as mil e uma espadas penduradas pela casa. Ah sim! As mãos cobertas com luvas de cetim.
A morte nunca mais a encontrou. Ema e Ching-Ling viveram felizes para a eternidade.


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