MEU CAMINHO PARA BUDA - Carlos Cedano

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MEU CAMINHO PARA BUDA
Carlos Cedano

Meu nome é Aki Naoie, tenho trinta e quatro anos e moro há mais de seis no Brasil. Faço parte de uma comunidade budista onde sou monja. Sempre me perguntam como se deu meu caminho para ser monja budista e sempre respondo que minha decisão foi tomada num momento de iluminação.

Na época que ocorreu morava em Tóquio e já me interessava pelo Xintoísmo e pelo Budismo, mas nunca pensei em ser monja, era professora de ensino fundamental numa escola perto de Tóquio. Sempre saía de casa muito cedo, gostava esperar a chegada das crianças e sentir a alegria delas, isso era como uma benção!

Num dia desses, úmido e coberto de nuvens negras, tive forte sensação de uma angústia que me oprimia o coração, algo me dizia que não seria um dia como os outros! Mas não sabia identificar o quê! Em quanto caminhava até a estação do trem percebia as pessoas irritadas, algo as afligia!

Cheguei à escola que ficava perto da estação e aproveitei para arrumar o material de ensino à espera dos alunos. Poucos minutos depois chegaram quase ao mesmo tempo e como todos os dias, alegres e brincalhonas e foram tomar seus lugares.

Iniciamos as lições, era maravilhoso observar a concentração e dedicação das crianças nas atividades propostas! Mas por volta das nove horas senti um pequeno estremecimento, não me preocupei, eles são frequentes no Japão, e os alunos continuaram suas atividades, acostumadas que estavam com esses pequenos tremores!

Passaram-se quarenta minutos e houve outro tremor seguido por outro mais forte, as crianças devidamente treinadas, foram em ordem sentar-se debaixo das mesas de trabalho. Na rua os cachorros latiam nervosos, sentiam que algo mais se aproximava e quase que imediatamente as estantes com os livros começaram a balançar, os lustres mexiam fortemente e logo nossa própria sala, felizmente feita de madeira leve, começou a tremer violentamente!

O problema com os tremores é que você sabe quando começam e nunca quando cessam, e quarenta e cinco segundos são uma “eternidade”. Minha principal preocupação era manter as crianças juntas, se se dispersassem seria certo que correriam perigo ou extravio no meio da confusão!

Corri pra debaixo das mesas e falei em voz alta: “Vamos rezar todos um mantra budista que é utilizado em caso de fortes emoções e perigos”. O mantra era “om” cujo som prolongado durante alguns segundos reverbera internamente levando à calma. Os meninos aprenderam rapidamente e continuaram usando-o em conjunto e com voz firme!

De tempo em tempo olhava pra fora pela janela e via casas caindo, acidentes de carro, pessoas correndo apavoradas e buscando refúgios que não existiam, lá fora era o caos! De repente, vejo uma criança, não deveria ter mais de cinco anos no meio da rua e chorando, com certeza perdida e quase sem pensar corri  até ela,  peguei-a no colo e voltei pra escola!

Nesse instante tomei a decisão de invocar a ajuda do Gautama para que mantivéssemos nossa calma e terminasse o terremoto. De fato, a calma voltou e todas nossas crianças salvas, um pouco assustadas é certo, mas ilesas!

Na porta aparece um senhor desesperado, era o pai da criança, viu o filho e correu pra ele chorando e se abraçaram ficando assim por alguns minutos, o pai falava continuamente de milagre enquanto eu e as crianças, em silencioso respeito, olhávamos a bela cena de amor e reencontro feliz!


Esses eventos me reafirmaram que a bondade de Buda tinha atendido minha súplica o que me decidiu a trilhar o caminho da religião Budista, com o tempo e antes de embarcar para o Brasil virei monja e adotei o nome de Aki Naoie.


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