QUEM DEVERIA ESTAR AQUI - Oswaldo Romano



QUEM DEVERIA ESTAR AQUI
Oswaldo Romano      
                                                        
        A vida tornou-me um desconfiado. Quando deixei o interior não havia completado 15 anos. Aconteceu também pela vontade deles, os meus pais. Eu, iludido pela cidade grande aceitava a ideia com ponderação: hora sim, hora não. Estava indeciso, mas não demonstrava minha dúvida, ela poderia atingi-los, mostrar o possível risco. Foi risco porque eu ainda era uma criança. Como quebrar os laços que desde o nascimento nos uniram? Simples não fosse um laço de família  entre pais e filho que seria desfeito.

        A causa: Na cidade pequena, eu não tinha o mais elementar futuro. Nem estudos.

        Uma saída para a cidade grande era um jogo. Deu certo para muitos. Tinha que tentar. Iria deixar minha casa, minhas coisas, meus amigos, amigas, animais, meus pássaros, irmãs, meus pais. Iria deixar minha rua, os sinos da igreja, o jardim. Iria deixar parte da minha vida.

        Mas, o carinho da mãe em seu aposento, previa uma catástrofe. Um dolorido choro que tentava inutilmente  conter, pois seus soluços transpunham as paredes.

        — Pai - eu disse - a mãe esta sofrendo muito, mais ainda porque evita demonstrar sua enorme preocupação.

 Meu pai era um homem alto, levantei a cabeça e ia completar o que falava, mas calei-me quando vi lágrimas escorrendo dos seus olhos. Ele também sofria.

        — Amor, filho. Amor de mãe é muito forte. Suas palavras saíram truncadas...

        — É verdade pai... - Eu também não resisti, aquilo me tocou, não aguentei, chorei.

        Momentos depois, bati à porta do quarto onde a mãe estava.

        — Quem é? — Perguntou com voz embargada. Claro que sabia que era eu.

        — Entra, disse. — Abri a porta, ela abriu  os braços, fui recebido com forte aperto, descarregando de uma vez sua tristeza no meu ombro. Só pode dizer: 

Miu bambino! Era tanta sua emoção, que encobria meu choro, encobriu tudo que eu sentia.

        Ao fim rimos, rimos muito, um riso sobre lágrimas... E eu denotando viver um triste momento, disse:

        — Mãe, sabe quando choramos tão forte juntos? Sua expressão olhando-me admirada, aguardava o fim das minhas palavras.

        — Quando filho? Fale.

        — Quando eu nasci, mãe.

        — Má Dio Mio, figlio! -  Abriu de novo as contidas lágrimas...
*

        Pelo que ouviram, preciso falar ainda quem deveria estar aqui?

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