OS OVOS DA SERPENTE - Suzana da Cunha Lima


OS OVOS DA SERPENTE
Suzana da Cunha Lima

Por estes dias, que antecederam o final de semana, as notícias na televisão mostravam imagens de estádios recém-construídos, prontos para a Copa das Confederações, jogadores de outros países chegando ao Brasil e um certo frenesi que acomete o povão antes de competições futebolísticas importantes.  Em nosso país respira-se futebol, que é uma paixão nacional.

Mas nem sempre. Hoje, o custo absurdo dos estádios está apagando a última chama de alegria de nosso povo. O futebol não é mais o ópio do povo, que não está disposto a abrir mão do que é essencial para uma vida digna, paga a preço de ouro pelos impostos escorchantes. Não queremos mais assistir impotentes, a deterioração da qualidade de vida e o  esfacelamento de valores, em todos os setores.

E foi o que assistimos através das imagens impactantes de manifestações populares contra o aumento da tarifa de ônibus.  Ora, o Movimento Passe Livre não  tem mais que 40 integrantes, mas sua manifestação acendeu o rastilho da pólvora da indignação, revolta e descontentamento por todos os desmandos que tem asfixiado o povo nos últimos tempos.

Eles se alastraram e adquiriram proporções gigantescas. O que eu pude observar, no 15º de um prédio na Avenida Paulista, é que  não importava tanto o aumento da tarifa de ônibus, que tanta celeuma causou. Os 20 centavos de acréscimo foram a gota de água, a ponta do iceberg. O povo fervia de revolta e indignação pelos sistemas de saúde, educação e transporte público esfacelado, pelas obras superfaturadas e malfeitas, por equipamentos caríssimos se deteriorando em clínicas, sem uso e sem médicos. Tantas coisas por fazer e os políticos aumentando seus salários ao bel prazer.

 Fiz também um cartaz e desci, ainda com a boca anestesiada.  Ao chegar à calçada, vendo tantos jovens bem nascidos, que certamente nunca andaram de ônibus, entusiasmados, carregando cartazes e bandeiras, senti renascer um novo orgulho pela nossa juventude. Amei estar ali junto e declarar ao mundo e a mim mesma que eu também não aceitava aquele estado de coisas.

Senti claramente que subjacente a estas manifestações, havia um caldeirão de insatisfações, prestes a explodir.

Temos que acabar com a corrupção que corrói todos os valores e com a impunidade que tudo permite. Nossos dirigentes, uma vez instalados em seus castelos de poder, estão cada vez mais distanciados dos anseios legítimos desta população desrespeitada, surdos e insensíveis ao clamor nacional e às suas necessidades essenciais que só são lembradas nos palanques.

 Será que a classe política vai compreender que não há mais espaço nem clima para suas falcatruas, mentiras, corrupção que estão gerando um clima de angústia, insatisfação generalizada e principalmente medo, que se  instalou na família brasileira?

Não temos que aceitar este oceano de impunidade e corrupção. Não temos que aceitar que os “mensaleiros” (protagonistas do maior escândalo político que já tivemos) julgados e condenados com todos os recursos de defesa à sua disposição, ainda estejam soltos, buscando, com seus advogados caríssimos, alguma brecha jurídica para não irem para a prisão.

Não temos que aceitar que marmanjos de 18 anos ou índios totalmente aculturados não respondam pelos seus crimes e pelos seus atos.

 Não temos que aceitar a existência de Bolsas para tudo (com nosso suado dinheirinho), sustentando malandros, preguiçosos e delinquentes, prestando assistência a bandidos e suas famílias.  E ninguém a se preocupar com os traumas e sofrimentos das famílias desestruturadas por atos covardes e cruéis destes marginais.

Queremos andar livremente em nossas ruas, parques e praças, frequentar restaurantes, teatros ou cinemas, a qualquer hora do dia, sem medo, e não nesse clima de guerra não declarada, onde se queimam pessoas, se atiram em mulheres grávidas e jovens, se arrastam crianças pela rua até a morte, sem nenhum motivo e explicação, seguros da impunidade que a lei lhes confere.

Tenho quase a convicção que outra raça está nascendo: parecem humanos, mas não são. São seres destituídos de qualquer traço de compaixão, solidariedade ou patriotismo. E nós mesmos colocamos estes ovos de serpente em nossos ninhos, os alimentamos e até os levamos aos centros do poder, para defender nossos interesses.  Até quando?

Está na hora de nosso Brasil fazer um Gol de Placa, inesquecível, cujos efeitos se prolonguem por muitos anos: fazer correr  esta corja  para o buraco de onde saíram e não permitir que voltem para a vida pública, nunca mais.





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