A SEPARAÇÃO QUE ACONTECEU
Oswaldo
U. Lopes
Uma linda história de amor que resulta
em separação sempre foi o encanto dos trovadores medievais, dos primeiros
escritores, dos autores teatrais e dos romancistas.
Um final feliz para uma separação
traumática, nos tempos atuais, já começa tropicando na ideia de separação. Se
não for por causa mortis, como imaginar um apartamento, num tempo de internet, WhatsApp,
Facebook, Skype e todas as formas de comunicação modernas.
Um rompimento familiar, ou diferenças
étnicas e religiosas podem separar os indivíduos, não sua comunicação.
O caso de José Luís e Ana Clara era
diferente. Nada de questionamento familiar, nem cultural, nem étnico.
Profissional, menos ainda, ambos eram médicos felizes e realizados.
Haviam
se conhecido numa festa de dia dos namorados, no baile do Centro Acadêmico e
marchavam gloriosamente para o que seria um casamento feliz e bem realizado.
E o porém, como entrou na história?
Diferença de gêneros:
- Ana
Clara era mulher, pés no chão, cabeça erguida, mas não nas nuvens. Sonho: uma
boa casa, filhos e sucesso profissional.
- José
Luís era o rapaz socialista dos dezoito, estava longe do assentamento dos
sessenta. Aderiu aos médicos sem fronteiras e foi parar na Nigéria.
Separaram-se fisicamente, mas
continuavam se vendo e falando através dos mecanismos que a moderna tecnologia
fornece. A coisa ia assim, ela firme, ele balançando, achando que já fizera
bastante pelos sem fronteira, quando se instalou o silêncio.
Ele sumiu. Ela descobriu que realmente
o que sentia era amor e amor sincero, profundo. Mergulhou no trabalho,
destacou-se, cresceu. Só de noite,
sozinha se dava ao luxo de chorar.
Passou-se quase um ano e nada... No de
repente aquela foto, José Luís, magro, mal se aguentando nas pernas. Tivera
ebola numa aldeia remota e deserta e estava vivo por milagre.
Milagre chama milagre, ela embarcou
para lá e voltou com ele de maca. Recuperou-se e casaram.
Ele menos socialista, ela o rochedo de
sempre, não fazia cama na varanda nem esquecia o cobertor.
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