O SEGREDO DO VELHO HUG
Ledice de Sá Pereira
Na
pequena Hallstatt, na Áustria, vive o solitário Hug. Nascido e criado ali,
dedicou seus quase oitenta anos a levar os turistas pelas águas do lago que
circunda a cidade, em sua barca.
Sujeito
de pouca prosa, Hug é obrigado a se relacionar com as pessoas que ali aportam,
sedentas de informação.
A
paisagem bucólica da cidade, cercada de montanhas remete a histórias de fadas e
amores proibidos, despertando a curiosidade dos visitantes.
Hug
se sente pressionado a responder perguntas, saindo pela tangente quando
questionado.
Os
boatos hoje atravessaram os limites da cidadezinha, indo parar nas redes
sociais. Há indagações sobre os segredos que o lugar esconde.
Hug
não se sente à vontade para revelar histórias que guarda desde a juventude.
Uma
visitante, entretanto, derreteu aquele coração endurecido e rude.
Ao
vê-la, teve palpitações, sentindo que seu pulsar batia descompassadamente.
A
jovem era a própria reencarnação do amor que havia tentado sepultar.
Principalmente aquele olhar de cor de esmeralda o fazia recordar o dia triste
que vivera há tanto tempo.
Fora
abandonado no altar por aquela que lhe jurara eterno amor.
Soubera
que um barco a levara para outras terras distantes de onde nunca mais voltou. O
mundo desmoronou para o então jovem enamorado. Jurara nunca mais se apaixonar.
Agora,
via na jovem o retrato de sua paixão.
─ Sabe,
senhor, eu queria muito conhecer a cidade onde nasceu minha avó
que faleceu ano passado. Ela me contava que aqui deixou seu coração. Ameaçada
por seu pai, teve que deixar pra trás todos os seus sonhos, para evitar que o
homem que amava fosse assassinado.
Naquela
tarde, Hug deixou-se levar pelas lágrimas que insistiam em rolar pelo seu rosto
enrugado.
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