MOMENTOS DA VIDA
Sérgio Dalla Vecchia
Cássia era uma moça
estudiosa, gostava de idiomas. O sonho era morar no exterior.
Aplicada, formou-se em
arquitetura em renomada Faculdade na cidade de São Paulo.
O escritório de Arquitetura,
onde já era estagiária, reconhecendo seus méritos a efetivou como arquiteta.
O momento era de pura
felicidade. Já namorava há algum tempo um engenheiro mecânico. Esforçado, tinha
montado loja de acessórios para
automóveis. Os negócios iam de vento em popa e mais algum tempo ele pediria Cássia
em casamento, esse era o plano.
O namoro ia bem, as famílias
já se conheciam e ambas não tinham restrições com o relacionamento.
Lucas, o engenheiro,
apreciava velejar nos fins de semana na represa
Guarapiranga, tinha sempre Cássia como tripulante nos ventos fortes e
namorada nas calmarias.
Tinham muita empatia, a menos
da ambição de Cássia versus pé no chão de Lucas. Por vezes já haviam debatido
essa divergência.
Assim, após algum tempo, ela
foi surpreendida no Escritório, com uma notícia para lá de boa. Eles resolveram
abrir uma filial em Nova York, e o dono a convidou para acompanhá-lo, para
ajudar a compor uma equipe, sendo ela a coordenadora.
A notícia caiu como uma
bomba! Espalhou planos, ideais, metas, conceito de vida, até que os fragmentos
assentassem nos vários senões da vida em sociedade.
Ela irradiava alegria,
conseguiu realizar seu grande sonho, ao mesmo tempo ansiosa em lidar com o caos
emocional gerado.
—Como convencerei a família,
meus pais acredito que apoiarão, mas Lucas, pelo que conheço, não irá aprovar!-
Pensava Cassia.
—Será que ele irá comigo,
mas o seu negócio, como ficaria?- Dificilmente poderia abandoná-lo, Remoía.
Assim, a poeira baixou e após
muita conversa, acertaram o seguinte; ela iria e ele a visitaria em noventa
dias e daí teriam nova conversa.
O dia da partida chegou!
Já no aeroporto de
Guarulhos, Cássia eufórica, não via a hora de
embarcar.
Lucas, com olhar triste, acompanhava os movimentos, na esperança de
uma desistência ou ao menos uma despedida hollywoodiana. Nada especial, abraços
e beijos nos pais e o mesmo para o desconsolado namorado. Virou-se rumo ao
embarque.
Enfim Nova York!
Cassia logo instalou-se em
um pequeno apartamento, previamente locado pelo Escritório em Manhattan.
A nova Filial era próxima e
logo criou-se a rotina de ida e vinda, fazendo o percurso a pé. Logo aprendeu
com as americanas, que antes de tudo vem o conforto, calçar tênis para a
caminhada e o salto alto na mochila, para desfilar no escritório.
Assim o tempo foi passando, ela
formou uma boa equipe, o dono voltava cada vez mais frequente para o Brasil,
deixando-a no comando da Filial.
Seu inglês tornou-se fluente
e o espanhol ia pelo mesmo caminho, devido a quantidade de hispânicos.
O namoro estava morno por
dela, as novidades e aprendizados da nova vida, a ajudavam a não pensar muito nele.
Conheceu alguns rapazes, participou de alguns happy hours e assim vivia.
Estava feliz, tudo deu certo.
Lucas por sua vez, fazia a
rotina da loja, trabalhava bastante, mas era em casa que se lembrava dela. Por
noites seguidas, não conseguiu apagar a sua imagem. Sofreu bastante.
Enfim, passaram-se os
noventa dias e ele embarcou para Nova York, conforme o combinado.
Lá chegando, foi muito bem
recebido com beijos e abraços. Estava alegre, pode sentir novamente o corpo da
namorada junto ao seu.
Foram para o apartamento e
lá se instalou. A permanência era de apenas três dias, pois a loja no Brasil
não fluía sem sua presença. Ele era o faz tudo.
Aproveitaram para passear
nos pontos turísticos, estátua da Liberdade, Central Park, Broadway,
restaurantes e tantas outras atrações da metrópole.
Estavam se divertindo
bastante, até que em um momento mais calmo, resolveram conversar sobre o
futuro.
Cássia estava bem e queria
continuar em Nova York e pediu para Lucas vender a loja e montar um novo
negócio perto dela. Não queria de forma alguma abrir mão do seu sonho.
Ele, por sua vez lutou muito
para abrir a loja e por seu temperamento pé no chão, não queria arriscar em uma
desconhecida empreitada. Queria mesmo é que ela voltasse com ele para o Brasil.
Enfim, empasse!
Discutiram, na tentativa de
mudarem um ao outro. Nada, tudo em vão.
Eles já não eram os mesmos.
Sentiam isso!
A solução em comum, foi
acabar com o namoro.
Lucas voltou para o Brasil e
já no próximo fim de semana foi velejar na companhia de Érica, uma alemãzinha
que substituiu Cassia como tripulante, e daquele momento em diante, também como
namorada nas calmarias.
Cássia, depois da separação,
continuou investindo na carreira e
também nos happy hours, saboreando
seu drink predileto Cosmopolitan, acompanhada sempre de um querido amigo
executivo.
— C’est la vie! – Exclamaria
ela, se estivesse em Paris.
[UdW1]A
quantidade de hispânicos que se relacionavam com o escritório.
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