Um
olhar para o Primeiro Mundo
Suzana da Cunha Lima
Estava eu, na varanda de
minha cabine, vendo o navio seguir tranquilo num mar salpicado de pontinhos
luminosos enviados pelo sol que nos acompanha desde sempre. E a avaliar nossa
viagem por algumas das nações mais desenvolvidas do mundo.
Chegamos em Amsterdam no
último dia no qual o Keukenhof Gardens estaria aberto, em Lisse. (só abre ao
público oito semanas por ano) É considerado o maior jardim de flores do mundo e
certamente, o mais bonito. Sete milhões de bulbos, dos quais quatro milhões e
meio só de tulipas, a flor nacional. É de se perder o fôlego ver aqueles
tapetes multicoloridos de incrível beleza, usando as cores das flores para
formar belos desenhos. Amsterdam é uma cidade fervilhante, cheia de novidades
tecnológicas, acolhedora, bonita, com seus canais maravilhosos, que deslizam
por construções encantadoras e muito bem conservadas.
A Holanda, em si, é um
fenômeno da natureza, na sua luta contra a invasão das águas do mar. Isso não a
acovarda nem diminui o ímpeto de seu progresso. País liberal e acolhedor em
todas suas formas, oferece lindas paisagens e lugarejos antigos e bem conservados,
moinhos, fábricas de tamanco, queijos,
diamantes, entre outros, e Madurodam, a cidade miniatura. Riquíssima cultura
espalhada em cidades importantes no cenário mundial como Roterdã, Haia e Delft
e inúmeros museus. E berço de Rembrandt, Vermeer e Van Gogh e outros mestres, para
se dizer o mínimo.
Depois embarcamos rumo a
Escandinávia. E já nos deparamos, em cada porto, com uma nova paisagem, uma
nova linguagem, novos tipos humanos e uma cultura diferenciada. A natureza
deslumbrante de Bergen, Flaam e Hellesyt/Geiranger, alguns dos maiores fiordes
da Noruega, que logo na chegada nos concedeu 15 graus com sol e ao subir uma
montanha de mais de mil metros, uma nevasca silenciosa que cobriu tudo de
branco em minutos. Foi sensacional!!!
Noutro dia rumamos para
conhecer os canais de Estocolmo com suas margens lindíssimas, e a cidade de Copenhague,
que sempre nos recorda a infância na figura da Pequena Sereia. Grande surpresa
ao visitarmos a linda e personalíssima Tallin, na Estônia e, por fim, em frente
ao mar Báltico, São Petersburgo, a cidade mais bela da Rússia, com enormes e majestosas
construções às margens do rio Neva.
Qual o denominador comum destes
países tão diversos com tão alta qualidade de vida? Eles atravessaram guerras cruentas, invasão de
terras, fome, destruição. O clima gélido não os favorece, e os contínuos
ataques desde tempos antigos, obrigou-os a estar sempre alerta, na conquista e
preservação da liberdade que, para eles, chegou embrulhada em sangue e lágrimas.
No entanto, preservam com orgulho
seu passado, como os alicerces deste presente de extraordinário bem-estar que
hoje vivenciam, mas sempre atentos a um futuro que garanta que as riquezas
adquiridas e o bem-estar social sejam distribuídos com equidade e justiça.
A Escandinávia foi uma grata
surpresa. E no final da viagem paramos em Berlim, lembrando que ela foi quase
totalmente destruída na Segunda Guerra Mundial. Hoje é uma bela cidade, com seus parques verdes, sua calçadas amplas e
avenidas muito largas, e sua excelente cerveja, bares e juventude que gosta de
se divertir. Há museus por todo lado e para todo gosto. O parque de Tiergarten
é maior em área do que Mônaco, o rio Spree oferece belíssimos passeios de barco, nos brindando
com suas margens bem cuidadas, e todo o verde possível neste final de
primavera.
Muitos falam que a alta taxa
de suicídio nos países nórdicos se deve a terem tudo nas mãos, não há mais por
que lutar. Melhor a bagunça aqui do Brasil, com seu calor humano e o sol dos
trópicos. Que engano... Desde quando organização, limpeza e honestidade
conduzem à depressão e infelicidade? Por que nosso rio Pinheiros e Tietê e a
baia de Guanabara precisam ser poluídos, depósito de tudo quanto é tipo de lixo
e dejetos, em vez de terem suas margens bem cuidadas e suas águas límpidas? Por
que há gente ao relento, crianças na rua, educação e saúde das piores do mundo,
já que nunca atravessamos guerra alguma, na magnitude que a Europa sofreu?
O Brasil tem recursos quase
infinitos, natureza exuberante, povo cordial e criativo. Somos uma nação linda, de coração quente,
solidária e amorosa. Temos tudo para ser um grande país. O que nos falta?
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