TRISTEZA SEM FIM E SEM SAÍDA
Oswaldo
U. Lopes
Qual é a saída? Existe saída?
Olhar a foto leva ao desalento total! Ele é pobre, as roupas têm rasgos, ainda
que pareçam limpas. Sobre os joelhos uma sacola que deve servir de mochila. Não
tem calçados e a aparência e as marcas nos pés nus indicam que não tem nem
nunca os teve. Eles são típicos de quem não costuma usar nada para protegê-los.
A sua frente o chão está riscado,
sugerindo alguma brincadeira ou interação, terá parceiros?
É destro e aqui está a única luz que
pode afugentar a tristeza. Sobre folhas de papel, talvez um caderno ou bloco,
ele escreve.
Sua mão direita segura firme, com polegar
e indicador, um lápis, ou melhor, uma esferográfica. O objeto tem cores
(vermelho) e uma ponta brilhante. Seu olhar se concentra no que esta fazendo.
Atrás de si a terra embora clara,
ostenta alguma vegetação. Inferimos que está na África subsaariana, ou seja,
não estamos numa região desértica. África Oriental ou Ocidental? Que diferença
faz?
Nada parece sugerir alguma mudança no
futuro, não fosse o fato de que escreve e parece gostar disso. Será isto capaz
de alterar seu futuro e quem sabe fazê-lo escapar do círculo maldito da miséria
africana?
Pobre continente, guerras e matanças sem
fim pelos motivos mais diferentes, todos execráveis. Mortandade por diferenças
tribais, religiosas, feminicídios abundantes, estupros, sequestros. Mencione um
crime de lesa-humanidade e estará indicando um fato comum na África.
Para escapar teria que se inserir no
mundo ocidental e numa cultura diferente da sua. Como fugir dos seus e de seu
meio? Além de tudo há doenças que são incontroláveis e abundantes, fora fenômenos
naturais. Basta olhar os jornais ou noticiários. Ebola, tufões, guerras, luta
armada, terrorismo...
Fico a olhar a foto e a tristeza me
invade de novo, ele vai aprender a escrever, mas vai viver sem saída.
Nenhum comentário:
Postar um comentário