PEDRO JOSE – O MENINO QUE GOSTAVA
DE ESTUDAR
ANTONIA
MARCHESIN GONÇALVES
No avião Pedro José sentia-se
emocionado, estava pousando em sua terra natal, Moçambique. Lembrou-se de quando
pequeno com seus irmãos, pés descalços brincando no quintal com a bola que a
mãe havia feito com meias velhas e barbante. Moravam na periferia, num casebre
simples, com fogão de lenha onde a mãe cozinhava a pouca comida que o pai trazia.
Trabalhava duro como mineiro, eram felizes e unidos. Lembrou-se dos primeiros
dias na escola, um caderno e um lápis, ansioso para aprender a ler e escrever.
A escola feita de barro e sapé, com muitas crianças de vários tamanhos, sem
acomodação para todos, ele sentava no chão, mas nunca deixava que isso o
impedisse de fazer a lição ou que faltasse nas aulas.
Lembra também que foi através da
sua vontade de aprender que chamou atenção de um casal de médicos voluntários
italianos, que se encantaram com ele. Iam todos os dias na escola para dar
vacinas ou saber se alguém faltara e logo se inteiravam do porquê e tentavam
ajudar. Julio e Giordana, os médicos, passaram a frequentar a casa de Pedro e
ficaram amigos dos pais dele, a ponto de os convencerem a deixarem que a
educação do menino fosse responsabilidade deles. Para isso conseguiram a
autorização para levá-lo a morar com eles na Itália. A partir daí o mundo mudou para Pedro. Chorou
quando soube, tendo apenas dez anos, mas, lembra bem quando eles sentaram em
volta dele junto com seus pais, ele sentiu que era a chance de poder estudar
para um dia ajudar a família, foi convencido.
Os pais italianos eram
carinhosos, proviam de tudo, sentia-se com um filho verdadeiro. Sempre que
podiam nas férias iam ver a família e levavam provimentos de toda espécie,
nunca mais passaram necessidades. Pedro formou-se médico, fez pós-graduação,
tornou-se um homem bonito, alto, com bom gosto ao vestir-se. Logo ficou famoso
na cidade de Milão, onde moravam. Assediado pelas mulheres, dizia que não
queria nada sério até cumprir a missão de dar melhores condições aos pais e
irmãos, assim o fez. Comprou casa mais centralizada, pagou estudos dos irmãos e
tirou o pai da mina, conseguindo uma pensão à eles.
Julio e Giordana tinham orgulho
do seu filho e o amor era tanto que transparecia quando juntos.
Quando
os conheci eram amigos dos meus pais, Eu estudava em Londres, e ao voltar para a
Itália e instalar o meu consultório de psiquiatra em Milão, por coincidência,
era o mesmo prédio de Pedro. E foi assim que começou a nossa historia de amor.
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