O
PORTA RETRATO
Sergio Dalla Vecchia
Ao som dos Beatles, a festa
corria solta, anos sessenta, rodinhas animadas de jovens jogando palavras
hormonais uns nos outros.
Eu fazia parte de uma dessas
rodas. A conversa era sobre os mais variados assuntos pops. Olhares mútuos
analisavam os modos, as roupas, a simpatia e cultura dos festeiros. Após
processarem as análises, surgia o veredicto. Gostei, não gostei, feio, chato
etc.
Minha conclusão foi clara.
Não gostei de nenhuma das moças. Não me atraíram em nada. Faltava alguma coisa
que só minha alma perceberia.
Mudei de roda, acompanhado
com o copo de cuba libre em uma das mãos, que vez em quando me levava a bebida
à boca, para um refrescante gole. Quando me aproximei da nova rodinha, fui
instantaneamente flechado por par de olhos castanhos, mirando em cheio o coração. Minha alma aprovou sem
restrições.
Hoje após cinquenta anos de
casados, sentado no sofá da sala, quando olho para o velho porta retrato sobre
a mesinha à nossa frente, ainda me sinto flechado por aquele olhar. Viro o
rosto de encontro ao dela. Miro seus olhos e com sofreguidão busco seus lábios
carnudos.
Beijo o vazio.
Ai, que saudades!
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