O
RESGATE DO RIO PINHEIROS
Oswaldo Romano
A bacia do Rio Pinheiros até a década de 30, tomava toda
região da Zona Sul e parte da Oeste da cidade. É formada pelos rios Jurubatuba
e Guarapiranga. Abrangia uma extensão de todo vale entre a Fazenda Morumbi e a
parte baixa da hoje Faria Lima.
O panorama era de extensa várgea formada pelas dezenas de
córregos de ambos os lados cuja foz é o rio. Seu leito contornando
irregularidades do solo formava caudalosos desvios que entravam pelas laterais
e inundavam terrenos até seu definitivo deságuo.
Sua corredeira alcançava no Rio Tiete, o que o mantinha
limpo e usado para a prática de esportes inclusive a pesca.
A concessão dada a Light para o transporte urbano com o uso
dos elétricos sobre trilhos, aqui chamados de bondes, empresa Canadense de
larga visão, viu a necessidade de organizar essas águas, retificar o rio, com o
objetivo de criar uma usina elétrica na baixada da Serra do Mar. Um caríssimo e
atrevido empreendimento.
Foi necessário represá-lo com um futuro lago previsto por
Kenney Billings, engenheiro americano, invertendo seu curso. Essas águas iriam
alimentar grandes tubulações projetadas para acionar a usina Henry Borden, em Cubatão.
Nessa mudança o rio deixou de ser rio, transformando-se num
lago. Não havendo corrente, a não ser esporadicamente, é um depositário do
esgoto das dezenas de córregos poluídos.
Resolvida a fonte de eletricidade para a cidade e seus bondes
elétricos, a Light compartilhou com a CIA. CITY, outra gigante imobiliária
internacional, que regularizando a várgea, permitiu o maior desenvolvimento
urbano de São Paulo.
Conheci aquelas terras desde 1950. A Cia City, dominava
grandes áreas, e lançava modernos bairros. Ruas loteadas foram abertas apenas
com as guias assentadas, mas arborizadas e com rígidos regulamentos. As que conheci na época, eram de terra, ou
melhor de barro.
Os aqui descritos são insignificantes traços
da evolução dessa região.
Para ligar estes fatos permita-me dizer que na
ocasião eu abri uma pequena loja de materiais para construções no bairro dos Remédios,
local lindeiro a foz do Rio Pinheiros, no encontro com o Rio Tietê.
Corria o
ano de 1961, depois do expediente, já anoitecia, precisei ir no bairro Alto dos
Pinheiros, visitar o fornecedor, conhecido e festejado atleta. Manoel dos
Santos, medalha de bronze olímpica em 1960, em Roma. Encalhei com meu Fiat
próximo a sua casa vítima do barro importuno do Rio Pinheiros, depois de um
exaustivo dia. Tínhamos contas para acertar. Ele era representante de uma
fábrica de tacos para assoalho, de quem comprava boa quantidade com pagamento
antecipado. Um dos fregueses que aguardava o produto era o construtor Mofarrej,
importante empresário de armazéns na região recuperada pela retificação do rio.
As terras
onde hoje está o Parque Vila Lobos, serviam à Prefeitura para depósito do lixo
da cidade, e aceitavam também terras e entulhos da construção da canalização do
Rio. Os proprietários da famosa e cobiçada área eram da Família Abdala. Passava
por ela o Córrego Boaçava, que na parte baixa formava um pequeno lago dentro
das terras. Aconteceu o que não queriam. Foi desapropriada para um Parque. Na
época prevalecia o valor venal. Receberam um valor de 10 milhões,
insignificante. Não foi justo, discutiram judicialmente e passados anos e anos
os idosos morreram, e só em 2017 os herdeiros ganharam o pagamento, parcelado
em 10 vezes o valor ajustado.
A
evolução da minha pequena loja, citada na Vila dos Remédios, ganhava extraordinário
sucesso. Reagimos e construímos imponente prédio, mas para atender uma freguesia
que abrangia toda América do Sul, imigramos para as bandas mais valiosas das
terras barrentas retificadas da história do Rio Pinheiros. Ao terreno
principal, juntando aquisições de casas lindeiras, conseguimos ficar com 27.000
mt2 do terreno. Lançando ali o Romano
Center – O Fantástico Mundo da Construção, na Av. Berrini, contribuímos para o
bairro ser o que é hoje, como aconteceu na Vila dos Remédios.
Considerada uma das três mais
valiosas áreas de São Paulo, aquela várzea barrenta, cortada pelo rio mais
poluído da cidade, tem suas principais terras valorizadas em $18.000,00 reais, o
mt2.
Fato
curioso nas construções nessas áreas, o desaterro para subsolos, que pode
alcançar até cinco pavimentos, o lençol freático mistura-se às águas do rio transformando
a escavação em desafiante lago. Vencida a construção da Cortina Protetora, a
ingerência descabida de enormes bombas, secam o local.
O Rio
Pinheiros continua lutando.
Quando
construí nossa casa, com subsolo, no já falado bairro Alto dos Pinheiros, arborizado
e regulamentado pela Cia. City, enfrentamos para o subsolo, o mesmo terreno
alagadiço. O premiado Frank Cheng, autor do projeto, desafiado disse: “é do
melhor barro que construo a melhor escultura”.
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