CÍNICO CONTUMAZ
Oswaldo
U. Lopes
Era um cínico contumaz, aliás como ele
próprio preferia cínico consebastião, andava cansado do Tomaz. Um dos seus
heróis preferidos era Hagar o Viking. Sorria toda vez que se lembrava daquela
tirinha abençoada:
Honi , a filha: - Você é um velho cínico!
Honi, continuando : - Por que o mundo está tão cheio de velhos cínicos?
Hagar saboreando uma cerveja: - Os cinicos vivem mais!
Flertava com a modernidade, expunha seu
pensamento sobre assuntos relevantes do momento:
- O
feminicídio continua existindo e crescente no número, mas a justiça está mais
rápida. Vide por exemplo o caso do Sr. Manuel Pereira dos Anjos, portuga da
gema.
Matou
a mulher a facadas e enterrou o corpo na cozinha. Foi preso meia hora depois.
Ajudou muito na investigação o fato dele morar num apartamento localizado no
segundo andar.
Sob
o mesmo assunto adorava contar a história do homicida que compareceu perante o
juiz:
- Como
é que o senhor foi matar a sua mulher depois de 45 anos de casado?
- Pois
é, meritíssimo, a gente vai adiando, adiando...
Tecia louvas ao glorioso exército
italiano e sua famosa valentia. Contava que, logo após os primeiros combates na
Abissínia, Mussolini fora visitar os feridos num Hospital Militar.
Ao
penetrar na enfermaria na companhia de todo estado maior, a desagradável
surpresa. Todos os feridos estavam de bruços, deitados na cama com evidentes
ferimentos nas costas e a maioria na bunda, ou seja, feridos em retirada
provavelmente apressada.
Para alivio geral lá num canto havia um
soldado deitado de costas com um ferimento na testa. Todos correram na sua
direção e o próprio Mussolini arrancou uma de suas medalhas para colocar no
peito do jovem herói.
-
Conta, filho, como você se feriu, frente a frente com o inimigo?
- No,
ma che, è stata la maledetta curiosita.
O apreço pelos militares não ficava por
aí. Quem viaja pelas estradas menores na França repara que todas são muito
bonitas e arborizadas. Lá vinha a maldade:
- As
estradas na França são cheias de árvores para o exército alemão marchar na
sombra.
Adorava contar a história, verídica, do
bom Papa João XXIII. Depois do sisudo e nobre Pio XII (Cardeal Pacelli), o
Cardeal Roncalli (este era o nome do Papa João XXIII) resolveu dar uma
entrevista coletiva aos repórteres credenciados junto ao Vaticano.
Diante do inesperado e inusitado fato a
maioria nem sabia o que e como falar, a vista disso, o bondoso Papa incentivava:
-
Vamos jovens perguntem.
-
Santidade, quantas pessoas trabalham no Vaticano?
- A
metade, meu filho!
Falava, lia e escrevia em alemão (para
quem conhece, dominar as três coisas, não é fácil), mas gostava de explicar que
para aprender alemão só havia duas maneiras:
Primeira
– Nascer e ser criado numa família, genuinamente, alemã. Isso é importante
porque você pode nascer na Alemanha e vir a falar turco.
Segunda
– Não funciona.
Até de sua lápide cuidava. Pensava que,
enfim, poderiam nela escrever o dito atribuído a Groucho Marx, mas que no
tumulo dele não esta:
Desculpe por não me levantar
Ou então aquele outro, segundo ele,
fascinante:
Estou
aqui, porém contra minha vontade
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