Assalto na saída do clube.
Fernando
Braga
Desde
que, há décadas comprei uma casa no excelente bairro Alto dos Pinheiros, me
tornei sócio, com título familiar do Clube AP, localizado a apenas duas quadras.
Hoje, como sócio remido, morando em outro bairro, costumo ir ao clube uma vez
por semana, para jogar pôquer com a mesma turma há 20 anos e, frequentar um
curso interessante, o Escreviver, graças ao qual passei a escrever contos,
romance, poesias e até escrevendo alguns livros.
Há
cerca de uma semana, quarta-feira à noite, estando sozinho, dei um pulo ao
clube, para saborear um de meus pratos preferidos.
Por
coincidência, havia uma reunião do Rotary Clube Pinheiros, que lá continuava se
reunindo há séculos, em um local apropriado e isolado de nosso restaurante.
Sentei-me em um cantinho e deu para perceber a movimentação das pessoas
chegando, animadas, muita conversa e após uns quinze minutos todos acomodados,
o diretor de protocolo, abrindo a sessão, anunciou o nome dos componentes da
mesa principal. Igualzinho ao que era em minha época.
Tomando
meu uísque, beliscando alguns petiscos, sozinho, meditativo, comecei a lembrar
de muitos anos atrás, quando também era um membro ativo, deste mesmo Rotary.
Lembrei-me de colegas de minha época, certamente já falecidos. As mulheres não
faziam parte desta associação, participando apenas das festivas. Hoje sim,
existem as rotarianas!
Com
dois uísques na cuca, me veio à cabeça três fatos chocantes de minha época.
O
primeiro foi de um colega que deixou o Rotary e mesmo o clube, após seu filho adolescente
ter fatalmente, se afogado na piscina. Olhei em direção à piscina e pensei:
Como foi triste, muito triste, eu teria desmoronado na vida!
O
segundo fato, aquele que aconteceu com o Chicão. Caiu do telhado de sua casa
quando foi verificar se o serviço do encanador estava perfeito. Foi internado e
operado de hematoma no cérebro. Eu estava no exterior e quando voltei, a pedido
da esposa, fui visitá-lo no hospital. Ele estava, em estado de morte cerebral. Percebi
que havia sido feita uma cirurgia muito incorreta, provável resultado de seu
estado. Morreu logo!
O
terceiro foi o assalto ocorrido no final de uma noite, após uma reunião de
Rotary quando um dos companheiros foi assaltado no estacionamento na frente ao
clube. A vítima, colega mais idoso, conhecidamente com alto poder aquisitivo,
considerado como o rei do arroz em São Paulo ou no Brasil e, que morava em
maravilhosa mansão no Morumbi. Costumava ficar até mais tarde no clube, bebendo
seus vinhos, mantendo a conversa.
Na
escuridão, ao aproximar-se de seu carro, já com as chaves na mão, foi abordado
por três bandidos, com armas em punho, obrigando-o a entrar em seu automóvel, sentar-se
no banco traseiro e informar os bancos em que tinha conta. Próximo do clube
havia cerca de três dos principais bancos, de onde, com o cartão da vítima e a
senha, retiraram o que foi possível. Foram a outras agencias com a mesma
finalidade e assim por diante. Após muita ameaça de morte, devido à petulância
e negação contínua de levá-los até sua casa, deram-lhe algumas coronhadas e
deixaram-no estendido no chão. Todos tiveram conhecimento do fato, que saiu nos
principais jornais da cidade. Ele era realmente muito conhecido e muito ligado
ao governador do Estado, da ocasião. Embora não podendo receber visita,
formamos um pequeno grupo de rotarianos e fomos até o hospital, onde estava
internado há mais de um mês. Para completar e em consequência teve um enfarte.
Seu estado era deplorável. Não pode mais voltar ao clube e saiu do Rotary.
Morreu uns seis meses após.
Foi
feita uma investigação e um dos bandidos, que era de Pirituba, acabou sendo
preso e após confessar o crime, dedou seus dois colegas e ainda o mentor, que
nada mais era do que um garçom, que servia nas reuniões do Rotary e conhecia a
maioria deles, os mais abonados. Ele acompanhara a vítima, até a saída da porta
do clube, certamente para identificá-lo.
Levado
preso, acabou por confessar sua participação. Procurou justificar-se, falando da
situação periclitante em que se encontrava, com a mulher desempregada, doente,
os filhos sem irem à escola e ainda com oito prestações atrasadas na caixa
econômica, através da qual havia adquirido seu pequeno apartamento. Agora
ameaçado de perdê-lo! Foi um desespero completo! Disse ele.
Pedi
aos rapazes, também de Pirituba, que não judiassem do meu freguês, rotariano!
Só que tirassem sua gaita!
Com
o que recebi deu para pagar as prestações que devia, apenas isto.
Quando
terminei meu jantar fui até a porta da reunião e dei uma olhada. Vi um antigo
colega e dele me aproximei. Lembrou-se de mim, abraçou-me e pegando o microfone
falou meu nome, apresentando-me e convidou-me para participar da próxima
reunião festiva, no final do mês, trazendo minha mulher! Era o único ainda
presente, de meu tempo, década de 80!
Me
comprometi! Vou convencer a patroa!
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